domingo, dezembro 14, 2014

Um ano depois

Coloco aqui um texto meu, escrito em 8 de dezembro de 2013, há quase exatos um ano.
Shellen Galdino
8 de dezembro de 2013 · Rio de Janeiro ·
É preciso afinar-se com o coro dos descontentes
São tempos difíceis, de árduas tarefas para todas as organizações de esquerda. Buscar, construção de um projeto mínimo, no campo democrático-popular, se faz urgente e essencial para o povo brasileiro.
Estão colocados na mesa, as necessidades de busca de estratégias e táticas para superação do que está posto, em todos os sentidos, e não só para o PT, mas para todas as organizações de esquerda do país e do mundo.
Mesmo após 10 anos de governo do Partido dos Trabalhadores e 33 anos de vida do nosso partido, temos a certeza de que fizemos muito pelo nosso país, e que ainda temos muito a fazer.
Construímos, praticamente, um país que estava nacionalmente em processo de destruição, personificado principalmente pelo projeto neoliberal do PSDB, e foi também fraturado pelos 21 anos de ditadura cívico-militar; da ditadura Vargas; do período imperial, entre outros.
Foram, assim, parcos os períodos de democracia que vivenciamos.
Mas, nos coube, a tarefa de mudar a história desse país: ampliar o acesso as universidades, da assistência social, do direito à moradia, da participação popular e tantos outros. Porém, como bem falou a nossa então presidenta Dilma Roussef, inclusão gera mais inclusão, democracia pede mais democracia.
Não nos cabe aqui, por limitação da pessoa que vos escreve, tecer críticas com relação as políticas implementadas pelo nosso governo a frente do Estado brasileiro. Mas, cabe sim dizer, que ao realizar críticas, é por acreditar que o campo pode e deve avançar mais, afinal o povo quer mais. Nós somos exigentes!
Não conseguimos ao longo desse breve período, por exemplo, avançar em pautas históricas e que são muito caras ao nosso PT e a todo o campo democrático-popular do país, como a reforma agrária e urbana, a reforma política, o compromisso com as lutas indígenas, juvenis e feministas, entre outras articulações com as nossas bases históricas nos movimentos sociais.
Para tanto, não podemos nos esquecer dos limites e condicionalidades impostas pela estrutura econômica. Estrutura capitalista essa totalmente imbricada no Estado, e que, nos faz refém ao “privatizar” nossos portos e aeroportos, o petróleo e a saúde; e ao favorecer o superávit primário e o sequestro do fundo público para pagamento de dívidas em detrimento do financiamento das políticas sociais públicas. Ficamos também, refém das empresas, ao negarem investimento no país.
Isso deve-se, também, ao nosso grosseiro arco de alianças, que pode, por um lado, nos servir no sentido pragmático e eleitoreiro, mas, de outro, nos faz recuar, beirando muitas vezes, em atitudes conservadoras para agradar a vizinhança.
Por outro lado, também, não podemos nos render ao conformismo e ao desencanto, acirrados pelas inúmeras dificuldades do cotidiano (que as vezes utilizamos até como retórica).
Há de tomar a premissa do genial Antônio Gramsci, onde é preciso aliar o pessimismo da razão, com o otimismo da vontade, e ver a história como um processo em aberto.
Em tempos como este, de ainda, negação de direitos sociais, encontramos, como vimos recentemente, resistências e lutas sociais. Tais lutas são travadas no dia a dia de uma conjuntura adversa. Pediram nas ruas, de forma espontânea ou não, desorganizada ou não, nos moldes clássicos ou não, em sua maioria, as pautas do povo: políticas sociais públicas, de qualidade.
Tendo isso em vista, é preciso ampliar o nosso leque programático tendo em vista os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
Se faz necessário, reassumir o trabalho de base, da formação e da educação política e a mobilização popular.
Não podemos abandonar em nenhuma hipótese a perspectiva revolucionária, no sentido marxiano do termo. Só esta irá categoricamente transformar a situação de vida do nosso povo e destruir o que chamamos de capitalismo, sem aqui, ter que medir palavras para soar bem aos ouvidos.
E nunca é muito lembrar, que a revolução se faz na macro-política, de maneira permanente e essencialmente na mudança radical das estruturas. Sendo assim, mudar essencialmente, significa pois, ir muito além das gestões públicas. Afinal, governos passam e o Estado fica.
Concluindo com o nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade
"Eu tropeço no possível,
mas não desisto de fazer a descoberta
que tem dentro da casca do impossível".
Shellen Galdino,
entre árvores e ventos.
Rio de Janeiro/RJ
08 de dezembro de 2013.

Drummond e o amor

Como nos enganamos fugindo do amor!
Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar sua espada coruscante, seu formidável poder de penetrar o sangue e nele imprimir uma orquídea de fogo e lágrimas.
Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu em doçura e celestes amavios.
Não queimava, não siderava: sorria.
Carlos Drummond de Andrade, Reconhecimento do amor.

Serverinos

Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Um dos melhores poetas do Brasil

Bentinho e capitu

"Capitu, apesar daqueles olhos que o diabo lhe deu... Você já reparou nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada. Pois apesar deles, poderia passar, se não fosse a vaidade e a adulação. Oh! A adulação!"
(Dom Casmurro - Machado de Assis)

Poema

Se eu não queimo
Se tu não queimas
Se nós não queimamos
De onde virá a luz?
Nazim Hikmet
Poeta turco. Pouco conhecido. Comunista profundo.

Marx e o amor

Se amas sem despertar amor, isto é, se teu amor, enquanto amor, não produz amor recíproco, se mediante sua exteriorização de vida como homem amante não te convertes em homem amado, teu amor é impotente, uma desgraça.
Karl Marx. Manuscritos Econômicos e filosóficos.

domingo, dezembro 14, 2014

Um ano depois

Coloco aqui um texto meu, escrito em 8 de dezembro de 2013, há quase exatos um ano.
Shellen Galdino
8 de dezembro de 2013 · Rio de Janeiro ·
É preciso afinar-se com o coro dos descontentes
São tempos difíceis, de árduas tarefas para todas as organizações de esquerda. Buscar, construção de um projeto mínimo, no campo democrático-popular, se faz urgente e essencial para o povo brasileiro.
Estão colocados na mesa, as necessidades de busca de estratégias e táticas para superação do que está posto, em todos os sentidos, e não só para o PT, mas para todas as organizações de esquerda do país e do mundo.
Mesmo após 10 anos de governo do Partido dos Trabalhadores e 33 anos de vida do nosso partido, temos a certeza de que fizemos muito pelo nosso país, e que ainda temos muito a fazer.
Construímos, praticamente, um país que estava nacionalmente em processo de destruição, personificado principalmente pelo projeto neoliberal do PSDB, e foi também fraturado pelos 21 anos de ditadura cívico-militar; da ditadura Vargas; do período imperial, entre outros.
Foram, assim, parcos os períodos de democracia que vivenciamos.
Mas, nos coube, a tarefa de mudar a história desse país: ampliar o acesso as universidades, da assistência social, do direito à moradia, da participação popular e tantos outros. Porém, como bem falou a nossa então presidenta Dilma Roussef, inclusão gera mais inclusão, democracia pede mais democracia.
Não nos cabe aqui, por limitação da pessoa que vos escreve, tecer críticas com relação as políticas implementadas pelo nosso governo a frente do Estado brasileiro. Mas, cabe sim dizer, que ao realizar críticas, é por acreditar que o campo pode e deve avançar mais, afinal o povo quer mais. Nós somos exigentes!
Não conseguimos ao longo desse breve período, por exemplo, avançar em pautas históricas e que são muito caras ao nosso PT e a todo o campo democrático-popular do país, como a reforma agrária e urbana, a reforma política, o compromisso com as lutas indígenas, juvenis e feministas, entre outras articulações com as nossas bases históricas nos movimentos sociais.
Para tanto, não podemos nos esquecer dos limites e condicionalidades impostas pela estrutura econômica. Estrutura capitalista essa totalmente imbricada no Estado, e que, nos faz refém ao “privatizar” nossos portos e aeroportos, o petróleo e a saúde; e ao favorecer o superávit primário e o sequestro do fundo público para pagamento de dívidas em detrimento do financiamento das políticas sociais públicas. Ficamos também, refém das empresas, ao negarem investimento no país.
Isso deve-se, também, ao nosso grosseiro arco de alianças, que pode, por um lado, nos servir no sentido pragmático e eleitoreiro, mas, de outro, nos faz recuar, beirando muitas vezes, em atitudes conservadoras para agradar a vizinhança.
Por outro lado, também, não podemos nos render ao conformismo e ao desencanto, acirrados pelas inúmeras dificuldades do cotidiano (que as vezes utilizamos até como retórica).
Há de tomar a premissa do genial Antônio Gramsci, onde é preciso aliar o pessimismo da razão, com o otimismo da vontade, e ver a história como um processo em aberto.
Em tempos como este, de ainda, negação de direitos sociais, encontramos, como vimos recentemente, resistências e lutas sociais. Tais lutas são travadas no dia a dia de uma conjuntura adversa. Pediram nas ruas, de forma espontânea ou não, desorganizada ou não, nos moldes clássicos ou não, em sua maioria, as pautas do povo: políticas sociais públicas, de qualidade.
Tendo isso em vista, é preciso ampliar o nosso leque programático tendo em vista os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
Se faz necessário, reassumir o trabalho de base, da formação e da educação política e a mobilização popular.
Não podemos abandonar em nenhuma hipótese a perspectiva revolucionária, no sentido marxiano do termo. Só esta irá categoricamente transformar a situação de vida do nosso povo e destruir o que chamamos de capitalismo, sem aqui, ter que medir palavras para soar bem aos ouvidos.
E nunca é muito lembrar, que a revolução se faz na macro-política, de maneira permanente e essencialmente na mudança radical das estruturas. Sendo assim, mudar essencialmente, significa pois, ir muito além das gestões públicas. Afinal, governos passam e o Estado fica.
Concluindo com o nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade
"Eu tropeço no possível,
mas não desisto de fazer a descoberta
que tem dentro da casca do impossível".
Shellen Galdino,
entre árvores e ventos.
Rio de Janeiro/RJ
08 de dezembro de 2013.

Drummond e o amor

Como nos enganamos fugindo do amor!
Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar sua espada coruscante, seu formidável poder de penetrar o sangue e nele imprimir uma orquídea de fogo e lágrimas.
Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu em doçura e celestes amavios.
Não queimava, não siderava: sorria.
Carlos Drummond de Andrade, Reconhecimento do amor.

Serverinos

Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Um dos melhores poetas do Brasil

Bentinho e capitu

"Capitu, apesar daqueles olhos que o diabo lhe deu... Você já reparou nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada. Pois apesar deles, poderia passar, se não fosse a vaidade e a adulação. Oh! A adulação!"
(Dom Casmurro - Machado de Assis)

Poema

Se eu não queimo
Se tu não queimas
Se nós não queimamos
De onde virá a luz?
Nazim Hikmet
Poeta turco. Pouco conhecido. Comunista profundo.

Marx e o amor

Se amas sem despertar amor, isto é, se teu amor, enquanto amor, não produz amor recíproco, se mediante sua exteriorização de vida como homem amante não te convertes em homem amado, teu amor é impotente, uma desgraça.
Karl Marx. Manuscritos Econômicos e filosóficos.