domingo, setembro 04, 2011

Aos que ousam lutar!


Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam por anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis.”
Bertolt Brecht

Ocupação Manuel Gutierrez 25/08/11 - UEM (Foto: Andressa Modolo)

Eles ocuparam o prédio da reitoria da Universidade Estadual de Maringá em 25.08.2011 e saíram nesta sexta-feira, dia 02 de setembro de 2011. Nestes dias, muito se falou deles. Nas salas dos professores, salas de aulas e corredores da UEM; nas residências, ruas, ônibus, igrejas, shoppings e comércio de Maringá e região; na mídia local e estadual; nos blogs, facebook, etc. Em todos os lugares, eles dividiram opiniões!

Muitos os criticaram, alguns mais exaltados clamaram por repressão. “Baderneiros”, “maconheiros”, “vagabundos”, “vândalos” e outros epítetos foram lançados à face. Ironizaram a pauta de reivindicação, reduzindo-a um ou outro item. Outros críticos, quiçá moderados, quem sabe constrangidos, direcionavam suas farpas aos meios de luta utilizados e ao reiterado argumento da “partidarização” do movimento. O velho discurso da ordem foi brandido, sem a mínima análise crítica do significado desta. O clamor pela restauração da ordem tornou-se histeria na medida em que os dias passavam e os estudantes ousavam ainda mais.

A ousadia dos estudantes forçou o corpo docente a romper o marasmo e a indiferença. Pressionados pelas circunstâncias, muitos tiveram que se posicionar. Nas salas de aula, no campus, a violência simbólica assumiu ares de retórica democrática e o poder professoral revelou-se um fator inibidor do apoio e participação ativa dos alunos no movimento. Posicionar-se é um direito democrático. Não é isto que se questiona, mas sim o agir professoral, ou seja, se o(a) professor(a) exorbita em sua autoridade. Afinal, em sala de aula a relação é de poder!

Não obstante, o Movimento de Ocupação da Reitoria “Manuel Gutierrez” conquistou o apoio ativo de muitos docentes e técnicos – ainda que sejam minoria no campus. O apoio de sindicatos, associações representativas e outras instituições maringaenses também foi importante.

Juliana Ozaí da Silva e a turma do curso de Pedagogia (30.08.2011)

Os estudantes resistiram e deram uma lição de política, de democracia. Eles souberam superar as divergências internas, próprias de um movimento politicamente pluralista, pela prática democrática da autogestão. Organizaram-se em comissões, sem hierarquizações e com a assembléia estudantil como órgão máximo de debate e decisão, a qual todos estavam submetidos, inclusive e principalmente os representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) – Gestão Movimente-se UEM. Eles construíram na prática a unidade que as forças de esquerdas neste país têm se mostrado incapaz de consolidar.

A ironia é que a práxis democrática estudantil teve como locus o símbolo do que em tese representa a comunidade acadêmica, o Conselho Universitário (COU). Foi na sala de reuniões do COU que os estudantes debateram e decidiram os rumos do movimento. De fato, o COU expressa o poder docente (a eleição para os seus membros desconsidera até mesmo o critério da paridade).

Os acadêmicos deram uma demonstração de responsabilidade. Cuidaram do patrimônio público de forma exemplar. Oxalá, todos tivéssemos a mesma consciência em relação àres publica! Eles navegaram na contracorrente de uma certa prática privatista que vê o bem público como se fosse uma dádiva governamental a ser apropriada privadamente, por vias tortuosas ou mesmo sob o verniz burocrático-legal.

Outra lição dos estudantes foi a superação do individualismo. Estamos tão absortos em nossos projetos pessoais, concorrência por editais, cargos burocráticos, etc., que perdemos a dimensão social do nosso trabalho, do que significa ser intelectual, do compromisso da universidade pública com a comunidade e a realidade social que a circunda. Eles agiram por demandas coletivas. As conquistas do movimento contribuem inclusive com o trabalho docente e serão usufruídas pelos futuros estudantes. Eles constroem uma universidade de qualidade de fato

Os espíritos conservadores – às vezes travestidos de liberais ou até mesmo com retórica marxista – horrorizam-se diante da ação real e concreta dos que não apenas estudam a história, mas ousam fazê-la; dos que não se limitam a memorizar textos, conceitos e teorias, mas aceitam o desafio de aprender com a prática e, assim, superar seus próprios mestres. As atitudes dos jovens estudantes desafiam-nos a repensar a nossa práxis docente e a observar com maior acuidade as incoerências existentes entre o discurso e a prática.

Foto: Antonio Ozaí da Silva (30.08.2011)

Todavia, talvez a maior lição dos estudantes seja o ousar lutar. A luta é uma escola de política por excelência. Os que lutaram no passado, mas se acomodaram à mesmice ou se encastelam em cargos burocráticos, talvez possam aprender algo. De qualquer forma, o aprendizado que a luta proporciona aos diretamente envolvidos têm efeitos positivos. A direção aperfeiçoou seu aprendizado político. Pedagogicamente, talvez o mais importante tenha sido a educação política das dezenas de jovens, mulheres e homens, que viveram a experiência da luta concreta. Cresceram intelectual e politicamente, tornando-se seres humanos mais conscientes e críticos. Há quem prefira que os estudantes se restrinjam a estudar e tirar nota – este modelo favorece os mais adaptados. No fundo, porque é cômodo, pois acadêmicos politizados e conscientes dos seus direitos desafiam o poder burocrático e professoral.

Ainda há muito a fazer! É preciso, por exemplo, democratizar pra valer não apenas o COU, mas também o espaço da sala de aula. No entanto, os acadêmicos do Movimento de Ocupação da Reitoria “Manuel Gutierrez” deram passos importantes e foram vitoriosos em seus objetivos. Deram-nos lições e estão de parabéns. Nós, professores, podemos nos orgulhar deles e delas!

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domingo, setembro 04, 2011

Aos que ousam lutar!


Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam por anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis.”
Bertolt Brecht

Ocupação Manuel Gutierrez 25/08/11 - UEM (Foto: Andressa Modolo)

Eles ocuparam o prédio da reitoria da Universidade Estadual de Maringá em 25.08.2011 e saíram nesta sexta-feira, dia 02 de setembro de 2011. Nestes dias, muito se falou deles. Nas salas dos professores, salas de aulas e corredores da UEM; nas residências, ruas, ônibus, igrejas, shoppings e comércio de Maringá e região; na mídia local e estadual; nos blogs, facebook, etc. Em todos os lugares, eles dividiram opiniões!

Muitos os criticaram, alguns mais exaltados clamaram por repressão. “Baderneiros”, “maconheiros”, “vagabundos”, “vândalos” e outros epítetos foram lançados à face. Ironizaram a pauta de reivindicação, reduzindo-a um ou outro item. Outros críticos, quiçá moderados, quem sabe constrangidos, direcionavam suas farpas aos meios de luta utilizados e ao reiterado argumento da “partidarização” do movimento. O velho discurso da ordem foi brandido, sem a mínima análise crítica do significado desta. O clamor pela restauração da ordem tornou-se histeria na medida em que os dias passavam e os estudantes ousavam ainda mais.

A ousadia dos estudantes forçou o corpo docente a romper o marasmo e a indiferença. Pressionados pelas circunstâncias, muitos tiveram que se posicionar. Nas salas de aula, no campus, a violência simbólica assumiu ares de retórica democrática e o poder professoral revelou-se um fator inibidor do apoio e participação ativa dos alunos no movimento. Posicionar-se é um direito democrático. Não é isto que se questiona, mas sim o agir professoral, ou seja, se o(a) professor(a) exorbita em sua autoridade. Afinal, em sala de aula a relação é de poder!

Não obstante, o Movimento de Ocupação da Reitoria “Manuel Gutierrez” conquistou o apoio ativo de muitos docentes e técnicos – ainda que sejam minoria no campus. O apoio de sindicatos, associações representativas e outras instituições maringaenses também foi importante.

Juliana Ozaí da Silva e a turma do curso de Pedagogia (30.08.2011)

Os estudantes resistiram e deram uma lição de política, de democracia. Eles souberam superar as divergências internas, próprias de um movimento politicamente pluralista, pela prática democrática da autogestão. Organizaram-se em comissões, sem hierarquizações e com a assembléia estudantil como órgão máximo de debate e decisão, a qual todos estavam submetidos, inclusive e principalmente os representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) – Gestão Movimente-se UEM. Eles construíram na prática a unidade que as forças de esquerdas neste país têm se mostrado incapaz de consolidar.

A ironia é que a práxis democrática estudantil teve como locus o símbolo do que em tese representa a comunidade acadêmica, o Conselho Universitário (COU). Foi na sala de reuniões do COU que os estudantes debateram e decidiram os rumos do movimento. De fato, o COU expressa o poder docente (a eleição para os seus membros desconsidera até mesmo o critério da paridade).

Os acadêmicos deram uma demonstração de responsabilidade. Cuidaram do patrimônio público de forma exemplar. Oxalá, todos tivéssemos a mesma consciência em relação àres publica! Eles navegaram na contracorrente de uma certa prática privatista que vê o bem público como se fosse uma dádiva governamental a ser apropriada privadamente, por vias tortuosas ou mesmo sob o verniz burocrático-legal.

Outra lição dos estudantes foi a superação do individualismo. Estamos tão absortos em nossos projetos pessoais, concorrência por editais, cargos burocráticos, etc., que perdemos a dimensão social do nosso trabalho, do que significa ser intelectual, do compromisso da universidade pública com a comunidade e a realidade social que a circunda. Eles agiram por demandas coletivas. As conquistas do movimento contribuem inclusive com o trabalho docente e serão usufruídas pelos futuros estudantes. Eles constroem uma universidade de qualidade de fato

Os espíritos conservadores – às vezes travestidos de liberais ou até mesmo com retórica marxista – horrorizam-se diante da ação real e concreta dos que não apenas estudam a história, mas ousam fazê-la; dos que não se limitam a memorizar textos, conceitos e teorias, mas aceitam o desafio de aprender com a prática e, assim, superar seus próprios mestres. As atitudes dos jovens estudantes desafiam-nos a repensar a nossa práxis docente e a observar com maior acuidade as incoerências existentes entre o discurso e a prática.

Foto: Antonio Ozaí da Silva (30.08.2011)

Todavia, talvez a maior lição dos estudantes seja o ousar lutar. A luta é uma escola de política por excelência. Os que lutaram no passado, mas se acomodaram à mesmice ou se encastelam em cargos burocráticos, talvez possam aprender algo. De qualquer forma, o aprendizado que a luta proporciona aos diretamente envolvidos têm efeitos positivos. A direção aperfeiçoou seu aprendizado político. Pedagogicamente, talvez o mais importante tenha sido a educação política das dezenas de jovens, mulheres e homens, que viveram a experiência da luta concreta. Cresceram intelectual e politicamente, tornando-se seres humanos mais conscientes e críticos. Há quem prefira que os estudantes se restrinjam a estudar e tirar nota – este modelo favorece os mais adaptados. No fundo, porque é cômodo, pois acadêmicos politizados e conscientes dos seus direitos desafiam o poder burocrático e professoral.

Ainda há muito a fazer! É preciso, por exemplo, democratizar pra valer não apenas o COU, mas também o espaço da sala de aula. No entanto, os acadêmicos do Movimento de Ocupação da Reitoria “Manuel Gutierrez” deram passos importantes e foram vitoriosos em seus objetivos. Deram-nos lições e estão de parabéns. Nós, professores, podemos nos orgulhar deles e delas!

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