sábado, fevereiro 19, 2011

Observatório Internacional das Crises.

fonte:http://www.observatoriodelacrisis.org/?lang=pt-br

1. O mundo vive, hoje, uma situação de comoção ainda pouco compreendida e os meios de comunicação, comprometidos com os grandes interesses econômicos que controlam o mundo, fazem crer que se trata de simples e transitório problema, facilmente superável. Mas, na realidade, vivemos uma grave crise estrutural do sistema capitalista e, mais ainda, de civilização, que pode colocar em risco a própria sobrevivência da humanidade. Essa crise se manifesta de diversas formas nos diferentes continentes, espaços e atividades humanas e afeta a sociedade e a vida em todos os níveis.

2. Nos últimos trezentos anos o capitalismo propiciou, como nunca na história, uma verdadeira explosão no desenvolvimento tecnológico, nas forças produtivas, nas ciências, nas comunicações, nas artes, no comércio, na educação, na saúde etc.. No entanto, este sistema, junto com o colonialismo e o imperialismo, também foi e continua sendo, como nunca antes, responsável pela exploração extrema dos seres humanos, o que leva a diásporas e aapartheids sociais, à destruição, ao desperdício e à degradação dos recursos naturais fundamentais para sustentar a vida e a dignidade humanas. A ditadura das elites dominantes, que vem controlando e concentrando a riqueza e os recursos do mundo, é responsável pelo atual nível de degradação dos ecossistemas e pela deterioração global e pelas profundas diferenças nas condições de vida de bilhões de seres humanos.

Esta crise, por vários motivos, contém níveis de periculosidade jamais vistos. Porém, nós, os demais cidadãos do mundo, também somos responsáveis por esta crise, pois não fizemos o suficiente para evitá-la. Por isso temos a responsabilidade moral de participar da luta para superá-la.

3. Hoje, em pleno Século XXI, é indispensável que tomemos consciência do significado e das implicações desta crise, o que requer níveis adequados de informação, a partir de diferentes disciplinas e perspectivas do conhecimento humano, que permitam uma adequada compreensão dos problemas e suas soluções. Esta é a razão principal para organizar este Observatório Internacional da crise, uma iniciativa latino-americana.

4. A atual crise do capitalismo é um período crítico, mas também uma oportunidade para construir um novo caminho. Neste contexto, nunca sujeitos à negociação, devem ser objetivos de primeira ordem a paz, a democracia, a liberdade, a justiça, a dignidade e a equidade para o progresso, a segurança comum, a sobrevivência de todos os seres humanos e das futuras gerações.

5. A União Soviética perdeu a guerra fria, que culminou com seu desmembramento os Estados Unidos e o Ocidente também a perderam, o que se expressa na atual crise do capitalismo. Não houve, então, vencedores; todos perdemos.

6. Desde a Segunda Guerra Mundial e, em especial, com a última etapa de globalização neoliberal, presenciamos um período da história no qual se deu a maior transferência de riqueza dos pobres para os ricos, em todas as nações, e dos países pobres do Sul do planeta para os do Norte. Estes subsídios massivos dos pobres para os ricos não foram suficientes para compensar os grandes desequilíbrios produzidos pela Guerra Fria, pela especulação e pelo desperdício improdutivo das elites dominantes e das grandes potências, com destaque para os gastos militares.

7. A partir dos anos oitenta, com o neoliberalismo, o setor produtivo passou a crescer cada vez menos e o especulativo financeiro se tornou dominante, convertendo-se no centro da atual crise econômica, financeira, política, social, militar e cultural. Ao mesmo tempo, nos aproximamos do máximo da produção mundial de petróleo (“pic oil”) e a água e os recursos minerais se tornam cada vez mais escassos. Surge uma competição entre os biocombustíveis e os alimentos pelo uso da terra, o que encarece a produção dos últimos. Trata-se, claro está, de uma crise estrutural e civilizatória, não conjuntural. Para sua superação torna-se necessário introduzir parâ;metros que a lógica do capitalismo é incapaz de assimilar.

Há uma grave crise financeira. Desde meados de 2007 se incrementaram as massivas injeções de dinheiro, geradas a partir do nada pelos bancos centrais dos países ricos, numa tentativa de evitar o colapso de seus maiores bancos e empresas, principais responsáveis pela crise. Estas operações alcançaram níveis inimagináveis desde setembro e outubro de 2008, na casa de trilhões de dólares. Tais intervenções colocam mais volatilidade no sistema e incrementam a incerteza, aprofundam ainda mais a crise e as perdas, já dramáticas em extensos setores da população mundial. Isto implica que no futuro tais emissões inorgânicas de dinheiro procurarão se sustentar com uma maior transferência de riqueza real a partir das classes trabalhadoras e médias do Terceiro Mundo para os países centrais por meio de diferentes mecanismos, incluindo a ameaça ou a imposição militar para sustentar o poder econômico da elite dos países ricos, em particular dos Estados Unidos.

8. Esta crise financeira se expressa na volatilidade e guerra das moedas, em particular do dólar, na insolvência dos bancos e no incremento das dívidas, entre outros males que são parte da crise do conjunto do sistema de produção e distribuição. Além do mais, a atual crise econômica e financeira se faz acompanhar por uma crise ecológica. Os recursos naturais não são mais suficientes para atender ao atual estilo de vida de origem ocidental. Atualmente, 20% da população mundial, concentrada no Norte, consomem 80% dos recursos naturais.

9. Há uma crise ecológica. Os desequilíbrios ambientais, o aquecimento global etc., conseqüências da superexploração dos recursos naturais, dos fósseis em particular, afetam todas as regiões do mundo e se fazem sentir mais intensamente nas zonas de maior depressão e, dentro delas, nos setores mais empobrecidos. Destruímos o que a natureza tardou milhões de anos para construir nos escassos trezentos anos de revolução industrial. As maiores reservas de recursos naturais encontram-se no Sul e são ferozmente disputadas
pelos países dominantes, gerando guerras que tendem a se estender a outras regiões do planeta. Por tal razão, para se proteger diante da crise, é necessário que os países latino-americanos – e não só eles – reivindiquem a soberania sobre seus recursos naturais e os utilizem para sua preservação, pois tais recursos têm um peso determinante na economia mundial.

10. Há na atualidade uma crise social que se expressa através duma distribuição extremamente desigual da riqueza e da renda, alimentada pela transferência constante destes recursos do Sul para o Norte. O Sul tem financiado o desenvolvimento e o progresso do Norte através dessas transferências. É necessário um processo de redistribuição das riquezas em função dos países pobres e, em particular, dos setores mais empobrecidos.

11. O século XXI abre um período de esgotamento das reservas de matérias-primas e esta realidade configura uma nova situação e um problema muito grave para a humanidade. Os preços crescentes dos minerais conduzem a uma deformação da estrutura econômica dos países possuidores destes recursos. A taxa de inflação dos preços dos produtos agrícolas tem sido, nos últimos anos, o dobro da dos outros bens. Os problemas sociais desembocam na violência como forma de solucionar os conflitos cotidianos e na desorientação cultural, produto da hegemonia de uma cultura ocidental de progresso, de desperdício sem limites, de mais exploração, alienação, desesperança, visões fatalistas, xenofobia, racismo e extremismos fundamentalistas religiosos, com um neofacilsmo em ascenso. Pode-se agregar a isto que a maior parte dos meios de comunicação é dominada pelos interesses das elites que controlam o capital e serve como instrumento de deformação da consciência das sociedades. Além disso, persiste uma condição histórica em que as mulheres enfrentam ainda as piores formas de violência e exploração sexual, discriminação baseada no gênero e retrocesso no reconhecimento de seus direitos e liberdades.

12. Há uma crise política internacional. A guerra é um instrumento que o sistema capitalista não duvida em utilizar para apropriar-se dos recursos naturais e, em particular, dos energéticos, como no Iraque e Afeganistão. Ou mesmo para resolver contradições internas, sem descartar o uso de armas nucleares ou outras de destruição massiva. A América Latina está inserida nesta estratégia geopolítica, com suas novas bases militares no continente, a quarta frota norteamericana em águas territoriais, o golpe de estado em Honduras e o que mais possamos esperar.

Em 2008 os Estados Unidos anunciaram o início do deslocamento de sua IV Frota nos mares latino-americanos, o que é visto por muitos países como uma ameaça à sua segurança e aos seus recursos naturais. Isto é um elemento de pressão que empurra a região a adquirir e investir em novos equipamentos e tecnologia militares, a alterar o atual balanço de forças na região e a desviar valiosos recursos produtivos para o setor improdutivo de armamentos. Isto beneficia somente o complexo militar industrial mundial. À América Latina convém tentar resolver os assuntos de paz e de segurança, assim como os de sua sobrevivência e desenvolvimento, de forma conjunta. Disto deriva a urgente necessidade de conformar rapidamente, desde o Rio Grande até a Terra do Fogo, a unidade regional na diversidade e com a maior igualdade possível, num processo de construção de independência regional, que não deve postergar-se mais.

13. Há crise do Estado. Há questionamento e deslegitimação de governos e de partidos políticos e dificuldades na construção de espaços e processos democráticos quando o Estado se põe a serviço do capital. A corrupção forma parte da lógica econômica das transnacionais, das elites e da acumulação. Seus efeitos nas economias periféricas, ao priorizar a acumulação de lucros, deturpam as funções racionais dos Estados e da economia com respeito à provisão de bens, serviços e emprego e prejudicam a conservação e a renovação dos recursos naturais e a institucionalidade das nações.

14. O nível da crise tem se aprofundado progressivamente e requer seu seguimento integral e cuidadoso a partir de análises e opiniões diferentes, que permitam à cidadania mundial sua compreensão, um estado de alerta e uma ação preventiva frente aos perigos que encerra para grupos sociais, países, regiões e para a humanidade em geral.

QUAIS SÃO OS OBJETIVOS DESTE OBSERVATÓRIO?

1. Tentaremos analisar e divulgar esta crise de civilização em suas diferentes dimensões, com o objetivo de encontrar oportunidades para construir, na prática e na teoria, um pós-capitalismo, ou seja, formas novas de reorganização social sobre a base das experiências positivas e negativas do Século XX que articulem os conceitos de democracia, liberdade, equidade, justiça, segurança comum, paz, cidadania real etc.. Tudo isto com o uso sustentável dos recursos naturais e sua apropriação social, evitando o elevado desperdício destes, dando prioridade ao valor de uso (às necessidades das pessoas) frente ao valor de troca (aos interesses de acumulação de dinheiro); estendendo a democracia a todas as relações sociais, políticas, econômicas, culturais, de gênero e a multiculturalidade, de modo que se permita a todas as culturas, saberes, filosofias e religiões dar seu aporte próprio à construção de uma nova sociedade em equilíbrio entre si, com o meio ambiente e as capacidades do planeta.

2. Tentaremos analisar como a crise atual também oferece novas oportunidades para as resistências ao sistema vigente em diferentes setores: camponeses, operários, povos indígenas, afrodescendentes, migrantes, mulheres, jovens, velhos, profissionais e cidadãos de todos os níveis e que demandam um mundo mais justo e equitativo, em paz e harmonia com a natureza. São processos diferentes, com múltiplos atores, que enfrentam oposições radicais de elites minoritárias agindo em função de interesses de classes ou de grupos dominantes, cujo objetivo é somente a acumulação de dinheiro, riqueza e poder, sobrepondo-se a quaisquer outras considerações. Estes processos encontram na crise, como em todos os processos sociais, novas dificuldades culturais, éticas, ideológicas e de organização, mas também novas oportunidades. São processos dialéticos que exigem determinação, realismo, estratégias concre
tas, mas, sobretudo, clareza de visão e informação.

3. Buscaremos analisar como a crise proporciona oportunidades para a construção de novas institucionalidades ou para o aprofundamento de processos de integração já em marcha, como ocorre hoje na América Latina. O mundo necessita de saídas multinacionais e multicultrais, construtivas, que assegurem a equidade, o bem e a segurança comuns, o progresso, a paz, a liberdade e a democracia integrais, que não poderão surgir a partir dos que levaram a humanidade à beira de seu próprio extermínio.

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4. Este Observatório tentará transcender o marco acadêmico e ser um instrumento de informação e alerta documentada para os povos em suas lutas, para a construção de alternativas e para fazer propostas nos diferentes espaços e regiões do mundo.

5. Este Observatório deseja ser um lugar de trocas mundiais para socializar as idéias desde uma perspectiva multidisciplinar construtiva e inter-regional. Nesta medida, deseja ser um instrumento de construção, intercâmbio e unificação de critérios para conciliar e fazer propostas a nível nacional, regional e mundial.

6. Finalmente, o Século XXI se apresenta como uma época que pode ser o fim da história ou o princípio de uma nova história, um período para que a humanidade se reconstrua, aprendendo e criando a partir dos erros e acertos do passado e pensando nas futuras gerações e em sua continuidade. Este o desafio para a humanidade: construir a alternativa ou a transição em direção a algo superior em função da máxima criação que podemos aspirar, o ser humano integral, em harmonia consigo mesmo e com a natureza.

COMITÊ ORGANIZADOR

Wim Dierckxsens (Sociólogo – Economista – Países Baixos)

Reinaldo Carcanholo (Economista – Brasil)

Antonio Jarquin T (Médico – Sociólogo – Nicarágua)

Paulo Nakatani (Economista – Brasil)

Remy Herrera (Economista – França)

Paulo Campanario (Sociólogo-Demógrafo – Brasil)

Andrés Piqueras (Sociógo – Espanha)

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sábado, fevereiro 19, 2011

Observatório Internacional das Crises.

fonte:http://www.observatoriodelacrisis.org/?lang=pt-br

1. O mundo vive, hoje, uma situação de comoção ainda pouco compreendida e os meios de comunicação, comprometidos com os grandes interesses econômicos que controlam o mundo, fazem crer que se trata de simples e transitório problema, facilmente superável. Mas, na realidade, vivemos uma grave crise estrutural do sistema capitalista e, mais ainda, de civilização, que pode colocar em risco a própria sobrevivência da humanidade. Essa crise se manifesta de diversas formas nos diferentes continentes, espaços e atividades humanas e afeta a sociedade e a vida em todos os níveis.

2. Nos últimos trezentos anos o capitalismo propiciou, como nunca na história, uma verdadeira explosão no desenvolvimento tecnológico, nas forças produtivas, nas ciências, nas comunicações, nas artes, no comércio, na educação, na saúde etc.. No entanto, este sistema, junto com o colonialismo e o imperialismo, também foi e continua sendo, como nunca antes, responsável pela exploração extrema dos seres humanos, o que leva a diásporas e aapartheids sociais, à destruição, ao desperdício e à degradação dos recursos naturais fundamentais para sustentar a vida e a dignidade humanas. A ditadura das elites dominantes, que vem controlando e concentrando a riqueza e os recursos do mundo, é responsável pelo atual nível de degradação dos ecossistemas e pela deterioração global e pelas profundas diferenças nas condições de vida de bilhões de seres humanos.

Esta crise, por vários motivos, contém níveis de periculosidade jamais vistos. Porém, nós, os demais cidadãos do mundo, também somos responsáveis por esta crise, pois não fizemos o suficiente para evitá-la. Por isso temos a responsabilidade moral de participar da luta para superá-la.

3. Hoje, em pleno Século XXI, é indispensável que tomemos consciência do significado e das implicações desta crise, o que requer níveis adequados de informação, a partir de diferentes disciplinas e perspectivas do conhecimento humano, que permitam uma adequada compreensão dos problemas e suas soluções. Esta é a razão principal para organizar este Observatório Internacional da crise, uma iniciativa latino-americana.

4. A atual crise do capitalismo é um período crítico, mas também uma oportunidade para construir um novo caminho. Neste contexto, nunca sujeitos à negociação, devem ser objetivos de primeira ordem a paz, a democracia, a liberdade, a justiça, a dignidade e a equidade para o progresso, a segurança comum, a sobrevivência de todos os seres humanos e das futuras gerações.

5. A União Soviética perdeu a guerra fria, que culminou com seu desmembramento os Estados Unidos e o Ocidente também a perderam, o que se expressa na atual crise do capitalismo. Não houve, então, vencedores; todos perdemos.

6. Desde a Segunda Guerra Mundial e, em especial, com a última etapa de globalização neoliberal, presenciamos um período da história no qual se deu a maior transferência de riqueza dos pobres para os ricos, em todas as nações, e dos países pobres do Sul do planeta para os do Norte. Estes subsídios massivos dos pobres para os ricos não foram suficientes para compensar os grandes desequilíbrios produzidos pela Guerra Fria, pela especulação e pelo desperdício improdutivo das elites dominantes e das grandes potências, com destaque para os gastos militares.

7. A partir dos anos oitenta, com o neoliberalismo, o setor produtivo passou a crescer cada vez menos e o especulativo financeiro se tornou dominante, convertendo-se no centro da atual crise econômica, financeira, política, social, militar e cultural. Ao mesmo tempo, nos aproximamos do máximo da produção mundial de petróleo (“pic oil”) e a água e os recursos minerais se tornam cada vez mais escassos. Surge uma competição entre os biocombustíveis e os alimentos pelo uso da terra, o que encarece a produção dos últimos. Trata-se, claro está, de uma crise estrutural e civilizatória, não conjuntural. Para sua superação torna-se necessário introduzir parâ;metros que a lógica do capitalismo é incapaz de assimilar.

Há uma grave crise financeira. Desde meados de 2007 se incrementaram as massivas injeções de dinheiro, geradas a partir do nada pelos bancos centrais dos países ricos, numa tentativa de evitar o colapso de seus maiores bancos e empresas, principais responsáveis pela crise. Estas operações alcançaram níveis inimagináveis desde setembro e outubro de 2008, na casa de trilhões de dólares. Tais intervenções colocam mais volatilidade no sistema e incrementam a incerteza, aprofundam ainda mais a crise e as perdas, já dramáticas em extensos setores da população mundial. Isto implica que no futuro tais emissões inorgânicas de dinheiro procurarão se sustentar com uma maior transferência de riqueza real a partir das classes trabalhadoras e médias do Terceiro Mundo para os países centrais por meio de diferentes mecanismos, incluindo a ameaça ou a imposição militar para sustentar o poder econômico da elite dos países ricos, em particular dos Estados Unidos.

8. Esta crise financeira se expressa na volatilidade e guerra das moedas, em particular do dólar, na insolvência dos bancos e no incremento das dívidas, entre outros males que são parte da crise do conjunto do sistema de produção e distribuição. Além do mais, a atual crise econômica e financeira se faz acompanhar por uma crise ecológica. Os recursos naturais não são mais suficientes para atender ao atual estilo de vida de origem ocidental. Atualmente, 20% da população mundial, concentrada no Norte, consomem 80% dos recursos naturais.

9. Há uma crise ecológica. Os desequilíbrios ambientais, o aquecimento global etc., conseqüências da superexploração dos recursos naturais, dos fósseis em particular, afetam todas as regiões do mundo e se fazem sentir mais intensamente nas zonas de maior depressão e, dentro delas, nos setores mais empobrecidos. Destruímos o que a natureza tardou milhões de anos para construir nos escassos trezentos anos de revolução industrial. As maiores reservas de recursos naturais encontram-se no Sul e são ferozmente disputadas
pelos países dominantes, gerando guerras que tendem a se estender a outras regiões do planeta. Por tal razão, para se proteger diante da crise, é necessário que os países latino-americanos – e não só eles – reivindiquem a soberania sobre seus recursos naturais e os utilizem para sua preservação, pois tais recursos têm um peso determinante na economia mundial.

10. Há na atualidade uma crise social que se expressa através duma distribuição extremamente desigual da riqueza e da renda, alimentada pela transferência constante destes recursos do Sul para o Norte. O Sul tem financiado o desenvolvimento e o progresso do Norte através dessas transferências. É necessário um processo de redistribuição das riquezas em função dos países pobres e, em particular, dos setores mais empobrecidos.

11. O século XXI abre um período de esgotamento das reservas de matérias-primas e esta realidade configura uma nova situação e um problema muito grave para a humanidade. Os preços crescentes dos minerais conduzem a uma deformação da estrutura econômica dos países possuidores destes recursos. A taxa de inflação dos preços dos produtos agrícolas tem sido, nos últimos anos, o dobro da dos outros bens. Os problemas sociais desembocam na violência como forma de solucionar os conflitos cotidianos e na desorientação cultural, produto da hegemonia de uma cultura ocidental de progresso, de desperdício sem limites, de mais exploração, alienação, desesperança, visões fatalistas, xenofobia, racismo e extremismos fundamentalistas religiosos, com um neofacilsmo em ascenso. Pode-se agregar a isto que a maior parte dos meios de comunicação é dominada pelos interesses das elites que controlam o capital e serve como instrumento de deformação da consciência das sociedades. Além disso, persiste uma condição histórica em que as mulheres enfrentam ainda as piores formas de violência e exploração sexual, discriminação baseada no gênero e retrocesso no reconhecimento de seus direitos e liberdades.

12. Há uma crise política internacional. A guerra é um instrumento que o sistema capitalista não duvida em utilizar para apropriar-se dos recursos naturais e, em particular, dos energéticos, como no Iraque e Afeganistão. Ou mesmo para resolver contradições internas, sem descartar o uso de armas nucleares ou outras de destruição massiva. A América Latina está inserida nesta estratégia geopolítica, com suas novas bases militares no continente, a quarta frota norteamericana em águas territoriais, o golpe de estado em Honduras e o que mais possamos esperar.

Em 2008 os Estados Unidos anunciaram o início do deslocamento de sua IV Frota nos mares latino-americanos, o que é visto por muitos países como uma ameaça à sua segurança e aos seus recursos naturais. Isto é um elemento de pressão que empurra a região a adquirir e investir em novos equipamentos e tecnologia militares, a alterar o atual balanço de forças na região e a desviar valiosos recursos produtivos para o setor improdutivo de armamentos. Isto beneficia somente o complexo militar industrial mundial. À América Latina convém tentar resolver os assuntos de paz e de segurança, assim como os de sua sobrevivência e desenvolvimento, de forma conjunta. Disto deriva a urgente necessidade de conformar rapidamente, desde o Rio Grande até a Terra do Fogo, a unidade regional na diversidade e com a maior igualdade possível, num processo de construção de independência regional, que não deve postergar-se mais.

13. Há crise do Estado. Há questionamento e deslegitimação de governos e de partidos políticos e dificuldades na construção de espaços e processos democráticos quando o Estado se põe a serviço do capital. A corrupção forma parte da lógica econômica das transnacionais, das elites e da acumulação. Seus efeitos nas economias periféricas, ao priorizar a acumulação de lucros, deturpam as funções racionais dos Estados e da economia com respeito à provisão de bens, serviços e emprego e prejudicam a conservação e a renovação dos recursos naturais e a institucionalidade das nações.

14. O nível da crise tem se aprofundado progressivamente e requer seu seguimento integral e cuidadoso a partir de análises e opiniões diferentes, que permitam à cidadania mundial sua compreensão, um estado de alerta e uma ação preventiva frente aos perigos que encerra para grupos sociais, países, regiões e para a humanidade em geral.

QUAIS SÃO OS OBJETIVOS DESTE OBSERVATÓRIO?

1. Tentaremos analisar e divulgar esta crise de civilização em suas diferentes dimensões, com o objetivo de encontrar oportunidades para construir, na prática e na teoria, um pós-capitalismo, ou seja, formas novas de reorganização social sobre a base das experiências positivas e negativas do Século XX que articulem os conceitos de democracia, liberdade, equidade, justiça, segurança comum, paz, cidadania real etc.. Tudo isto com o uso sustentável dos recursos naturais e sua apropriação social, evitando o elevado desperdício destes, dando prioridade ao valor de uso (às necessidades das pessoas) frente ao valor de troca (aos interesses de acumulação de dinheiro); estendendo a democracia a todas as relações sociais, políticas, econômicas, culturais, de gênero e a multiculturalidade, de modo que se permita a todas as culturas, saberes, filosofias e religiões dar seu aporte próprio à construção de uma nova sociedade em equilíbrio entre si, com o meio ambiente e as capacidades do planeta.

2. Tentaremos analisar como a crise atual também oferece novas oportunidades para as resistências ao sistema vigente em diferentes setores: camponeses, operários, povos indígenas, afrodescendentes, migrantes, mulheres, jovens, velhos, profissionais e cidadãos de todos os níveis e que demandam um mundo mais justo e equitativo, em paz e harmonia com a natureza. São processos diferentes, com múltiplos atores, que enfrentam oposições radicais de elites minoritárias agindo em função de interesses de classes ou de grupos dominantes, cujo objetivo é somente a acumulação de dinheiro, riqueza e poder, sobrepondo-se a quaisquer outras considerações. Estes processos encontram na crise, como em todos os processos sociais, novas dificuldades culturais, éticas, ideológicas e de organização, mas também novas oportunidades. São processos dialéticos que exigem determinação, realismo, estratégias concre
tas, mas, sobretudo, clareza de visão e informação.

3. Buscaremos analisar como a crise proporciona oportunidades para a construção de novas institucionalidades ou para o aprofundamento de processos de integração já em marcha, como ocorre hoje na América Latina. O mundo necessita de saídas multinacionais e multicultrais, construtivas, que assegurem a equidade, o bem e a segurança comuns, o progresso, a paz, a liberdade e a democracia integrais, que não poderão surgir a partir dos que levaram a humanidade à beira de seu próprio extermínio.

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4. Este Observatório tentará transcender o marco acadêmico e ser um instrumento de informação e alerta documentada para os povos em suas lutas, para a construção de alternativas e para fazer propostas nos diferentes espaços e regiões do mundo.

5. Este Observatório deseja ser um lugar de trocas mundiais para socializar as idéias desde uma perspectiva multidisciplinar construtiva e inter-regional. Nesta medida, deseja ser um instrumento de construção, intercâmbio e unificação de critérios para conciliar e fazer propostas a nível nacional, regional e mundial.

6. Finalmente, o Século XXI se apresenta como uma época que pode ser o fim da história ou o princípio de uma nova história, um período para que a humanidade se reconstrua, aprendendo e criando a partir dos erros e acertos do passado e pensando nas futuras gerações e em sua continuidade. Este o desafio para a humanidade: construir a alternativa ou a transição em direção a algo superior em função da máxima criação que podemos aspirar, o ser humano integral, em harmonia consigo mesmo e com a natureza.

COMITÊ ORGANIZADOR

Wim Dierckxsens (Sociólogo – Economista – Países Baixos)

Reinaldo Carcanholo (Economista – Brasil)

Antonio Jarquin T (Médico – Sociólogo – Nicarágua)

Paulo Nakatani (Economista – Brasil)

Remy Herrera (Economista – França)

Paulo Campanario (Sociólogo-Demógrafo – Brasil)

Andrés Piqueras (Sociógo – Espanha)

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