segunda-feira, dezembro 26, 2011

Lições cubanas para a saúde do povo brasileiro

Um grupo de 11 médicos brasileiros de Pernambuco, Bahia, Paraíba e Minas Gerais fomos a Cuba conhecer seu Sistema Nacional de Saúde em novembro de 2011, durante duas semanas, através de um curso organizado pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSAP). Todos éramos médicos da Atenção Primária no Sistema Único de Saúde e levamos à ilha uma questão central: o que podemos aprender com o povo cubano para garantia do direito à saúde no Brasil?
 
Porque Cuba
Uma pequena ilha, com cerca de 11 milhões de habitantes e um território um pouco maior que o estado de Pernambuco. Nos últimos anos, em meio a crises de qualidade e sustentação financeira dos serviços de saúde em todo o mundo, Cuba tornou-se uma referência.

E os resultados objetivos justificam a admiração pela saúde em Cuba. Antes da Revolução, o povo cubano vivia menos de 60 anos, 60 a cada 1.000 crianças morriam até um ano de idade e havia apenas 6 mil médicos no país, 56% dos quais viviam em Havana. Para agravar a situação, metade deles saiu do país após a Revolução Democrática e Popular de 1959.

Hoje a expectativa de vida média é 78 anos e o idoso que chega aos 80 anos vive mais 7,6 anos em média. A mortalidade infantil é de 4,5 crianças para cada 1.000 nascidos vivos e a mortalidade materna é 30 a cada 100.000 gestações. Foram erradicadas do país a poliomielite em 1962, a difteria em 1979, o sarampo em 1993 e a rubéola em 1995. As doenças que mais matam em Cuba são enfermidades cardiovasculares, tumores malignos e doenças vasculares cerebrais, um padrão típico de países desenvolvidos.
 
A Saúde em Cuba

O Sistema Nacional de Saúde em Cuba é universal, integral, gratuito, regionalizado e ao alcance de todos os cidadãos sem discriminações religiosas, políticas, por raça ou etniaO dever do Estado na garantia do direito à saúde está definido na Constituição da República. O sistema é orientado e coordenado pela base – como costumam se referir à Atenção Primária. E Cuba investe 18% do seu Produto Interno Bruto em saúde pública (no Brasil, essa cifra é de 3,4%).
 
O direito às creches é universal em Cuba, serviço cujo impacto positivo na saúde de uma criança já está comprovado por evidências científicas. Os chamados Círculos Infantis são serviços providos pelo Estado e garantem que as crianças pré-escolares sejam cuidadas durante as horas de trabalho dos pais.   O acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das crianças menores de um ano é feito por médicos de família em trabalho conjunto com pediatras, que vão às unidades básicas de saúde uma vez por semana. O calendário vacinal compreende 12 agentes patológicos, dentre elas a vacina desenvolvida em Cuba contra a bactéria meningocócica B.

A violência social, que adoece famílias no Brasil, é insignificante em Cuba. Tráfico de drogas, assassinatos, conflitos entre facções rivais,  mortalidade elevada de jovens por causas externas e disputa entre Estado e grupos para-militares são temas conhecidos através de filmes e histórias brasileiras.

As gestantes fazem em média 12 consultas de pré-natal, entre avaliações do médico de família e do obstetra, e todas fazem pelo menos uma Ultra-Sonografia. Os cubanos desenvolveram um serviço chamado Hogar Materno no qual gestantes com risco são acompanhadas em permanência-dia ou internação para controle de fatores que podem levar a um mal desfecho gestacional, como baixo peso, anemia, problemas familiares ou longa distância geográfica da maternidade. Além disso, as mulheres que não desejam concluir uma gestação podem interrompê-la com assistência de um serviço de saúde conforme pactuação com a equipe médica.

A saúde dos idosos é prioridade em Cuba. Em diversos serviços públicos, como escolas e academias populares, são organizados Círculos de Abuelos, onde os idosos fazem exercícios físicos, atividades cognitivas e convivência social. Os idosos sadios que ficam sós enquanto seus familiares trabalham podem ser acompanhados pela Casa de Abuelos, onde fazem trabalhos manuais, horta comunitária, exercício físico e atividades lúdicas sob supervisão de terapeutas ocupacionais e educadores físicos. Já famílias com idosos dependentes e acamados contam com o apoio do Estado que disponibiliza um cuidador domiciliar diariamente ou recorrem aos Hogares de Ancianos, equivalentes às Instituições de Longa Permanência em nosso país (conhecidas como Asilos), com a diferença de que em Cuba são um direito social garantido pelo Estado.

Atualmente, Cuba conta com 72,5 mil médicos, sendo que 36 mil deles atuam na Atenção Primária e 26 mil são especialistas em Medicina Geral e Integral (a especialidade equivalente no Brasil, chamada Medicina de Família e Comunidade, conta com 1.500 especialistas de um universo de 31.500 médicos que trabalham no Programa Saúde da Família). E não faltam bons médicos nos Postos de Saúde ou regiões rurais de difícil acesso. Um médico e uma enfermeira de família compõem um Consultório de Família, equivalente a uma Equipe de Saúde da Família no Brasil. São profissionais que vivem nas próprias comunidades em que trabalham e são responsáveis por, no máximo, 1.500 pessoas. Um grupo de até 20 Consultórios tem referência em um Policlínico, onde se encontram diversas especialidades médicas, outros profissionais de saúde, exames complementares e vacinação.

As práticas de Medicina Popular e Tradicional foram incorporadas aos Consultórios de Médico e Enfermeira da Família e aos Policlínicos. E graças ao desenvolvimento de pesquisas médicas autônomas, Cuba cria tecnologias próprias, como a medicação chamada Heberprot-P para feridas crônicas em pacientes com Diabetes Melitus que está sendo exportada para outros países. Como se não bastasse, um princípio cubano é a solidariedade: há 17 mil médicos e 23 mil outros trabalhadores da saúde em Missões Internacionais em 74 países, além de 24 mil jovens de 105 países que estudam medicina em Cuba.

São apenas alguns exemplos. Poderíamos citar também os serviços hospitalares descentralizados, os transplantes de órgãos e as tecnologias modernas de diagnóstico e tratamentos disponíveis, apesar do Bloqueio Norte Americano que impede, por exemplo, o uso de um medicamento para tratamento da leucemia em crianças que não respondem a quimioterápicos usuais.

Mas, existem desafios. Cuba enfrenta hoje o tema do tabagismo, hábito cultural e fonte de divisas importante para a economia nacional, diretamente relacionado às causas maiores de mortalidade. Além disso, é fundamental valorizar a moeda nacional e o salário dos trabalhadores, inclusive dos profissionais de saúde. O estímulo aos trabalhos por conta própria e luta contra o Bloqueio Norte Americano são medidas nesse sentido.
 
Lições para o povo brasileiro
Não há fórmulas prontas. O processo histórico de construção de uma sociedade e um sistema de saúde tem singularidades e particularidades. O povo cubano, inclusive, destacou-se na história por não aceitar imposição de modelos e construir suas mudanças com soberania. Mas, há lições importantes para os que desejam o direito à saúde para o povo brasileiro.

No Brasil, também tivemos conquistas populares no setor saúde com as lutas pela construção do SUS. Ao longo de seus 23 anos, conseguimos aumentar a expectativa de vida para 73,1 anos e reduzir a mortalidade infantil para 21,17 por 1.000 crianças nascidas vivas (vale lembrar as disparidades regionais, a ponto de Alagoas ter uma mortalidade infantil de 46 por 1.000). Resultados modestos se comparados aos cubanos. Nossos desafios são muitos.

Nessa vivência em Cuba, ficamos emocionados e inquietos ao lembrar das famílias que cuidamos e muitas vezes sofrem e adoecem por problemas que em Cuba foram superados há 50 anos. No Brasil, e não em Cuba, ainda existe baixa cobertura de serviços de atenção primária, carência de médicos em áreas remotas e periferias urbanas, concentração de médicos em setores privados de saúde, financiamento insuficiente.

E aprendemos com o povo cubano duas lições centrais: saúde se conquista com a garantia de outros direitos sociais e somente a vontade política garante saúde como um direito de todos e dever do Estado.  

Na sociedade brasileira, o Direito à Saúde somente será garantido com reformas estruturais: educação pública e de qualidade em todos os níveis, rede de proteção e assistência social ampla e eficiente, moradias saudáveis, alimentos acessíveis e sem agrotóxicos, melhores condições de trabalho e bons salários para todos os trabalhadores. Por isso, são fundamentais a ação dos movimentos populares, estudantis e sindicais no Brasil para fortalecer a Atenção Primária e o SUS, lutar contra as privatizações na saúde, banir o uso de agrotóxicos e fazer avançar as transformações profundas da sociedade brasileira. E façamos a nossa opção soberana por um projeto popular para o Brasil.
 
Bruno Abreu Gomes – Pedralva
Cuba, 3 de dezembro de 2011
Dia latino-americano da Medicina

NENHUMA DELAS É CUBANA


Por Celino Cunha

No último balanço do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) pode ler-se que actualmente existem no mundo 146 milhões de crianças menores de 5 anos com graves problemas de desnutrição. De acordo com este documento, 28% são de África, 17% do Médio Oriente, 15% da Ásia, 7% da América Latina e Caribe, 5% da Europa e 27% de outros países em desenvolvimento.

O relatório é inequívoco e informa que Cuba já não tem este problema, sendo o único país da América Latina que eliminou definitivamente a desnutrição infantil e que tudo tem feito para melhorar a alimentação, especialmente nos grupos mais vulneráveis. A própria Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) reconhece Cuba como a nação com mais avanços neste capítulo em toda a América Latina.

Isto deve-se fundamentalmente a que o Estado Cubano garante uma cesta básica alimentar e promove os benefícios da lactância materna, complementando-a com outros alimentos até aos seis meses e fazendo a entrega diária de um litro de leite para todas as crianças dos zero aos sete anos de idade, em conjunto com outros alimentos como compotas, frutas e legumes, os quais são distribuídos de forma equitativa.

CUBA SOCIALISTA E REVOLUCIONÁRIA!



Essa semana a Rede Globo de Televisão resolveu atacar através do Jornal Nacional o regime cubano... a poucos instantes relataram dados colhidos pela Universidade de Miame falando sobre o desemprego...falaram que a saúde em Cuba é a base do coleguismo e suborno... que só era bom na época dos subsídios da URSS... Mas esqueceram de falar a verdade, que o País resiste a mais de 50 anos de embargo econômico, que é proibido de manter relações comerciais com boa parte dos países que tem medo de retaliações dos EUA, e que mesmo assim, o povo cubano defendo o seu país de tais mentiras...Vida longa a revolução Cubana...Viva ao povo cubano...VIVA A CUBA!!!

sexta-feira, dezembro 23, 2011

Rimas da libertação

Rimas da Libertação. Música de "O Levante", do coletivo 


Lutarmada. "Revolução! / se liga sangue bom!! / com 


criatividade e indignação".



Rimas da libertação
Brotando do chão da periferia
A indignação se transforma em poesia
Que desvenda os olhos
E destapa os ouvidos
Pra fatos esquecidos ou que estavam escondidos
Como a guerrilha do Araguaia no regime militar
Pedaço da nossa história que a imprensa não pôde contar
Hass Sobrinho, Osvaldão, Elza Monerat
Quando ouvir nosso som você vai se lembrar
Dos pretos estadunidenses
No instante seguinte
Ao assassinato do pastor Martin Luther King
Vai lembrar do seqüestro do embaixador suíço
Trocado por 70 presos políticos
Dos quartéis, dos presídios direto pro exílio
E no Chile de Allende foram acolhidos
Obra assinada pela VPR de Lamarca, companheiro de Iara Iavelberg
Vai lembrar de Conselheiro defendendo Canudos
E do verdadeiro MR8 de outubro
Dos versos de Gil Scott-Heron e de Zé Ramalho
Esse som reverencia Apolônio de Carvalho
No Brasil e na Europa, exemplo de conduta
Mais de 60 anos dedicados à luta

Revolução! Se liga, sangue bom
Com criatividade e indignação
Revolução! Se liga, sangue bom
Vou rimando e com a rima buscando a libertação

– Abaixo a ditadura
Última frase dita por Zequinha antes de acabarem com a sua vida
Ele morreu por mim, por você, por todos nós
Esse rap é pra fazer ecoar a sua voz
Pra espalhar pro mundo o exemplo da Comuna de Oaxaca
É o poder popular no país de Zapata
Como o povo de Caracas que dos morros descia
E abortava um golpe de Estado que ainda nascia
Imagine só 30 pretos armados
Ocupando a assembléia do Estado
Da Califórnia, pra garantir o direito à autodefesa
Esse som é pra fazer lembrar dos Panteras Pretas
E de Ho Chi Mihn comandando no Vietnã
A guerra de guerrilhas que humilhou o Tio Sam
Esse rap é um resgate, é pra que ninguém se esqueça
De Gregório Bezerra e da Revolta dos Malês, de 2006, dia 8 de março
Laboratório da Aracruz, tudo em pedaços
Lá se foi pro espaço 20 anos de pesquisa
E viva a mulherada da Via Campesina
Revolução! Se liga, sangue bom
Com criatividade e indignação
Revolução! Se liga, sangue bom
Vou rimando e com a rima buscando a libertação

Aliança do balanço com a vontade de mudança
Quem escuta o nosso som raciocina enquanto dança
Quero que esse rap invada as vielas
Ecoando o grito de libertação de Marighella
Que soe em defesa das nossas comunidades
Como Zumbi defendeu o Quilombo dos Palmares
Que invada os lares dos milionários
Como o Movimento Revolucionário Tupac Amaro
Fazendo refém diplomatas do mundo inteiro
Exigindo em troca a liberdade de seus companheiros
Que venha na lembrança atos de rebeldia
Enquanto você dança e ouve a minha poesia
Sobre Les Marrons e a revolta dos escravos
Libertando o Haiti em 1804
Minhas rimas são documentos subversivos
Traduzindo a luta de Banto Steve Biko
A batalha diária do povo palestino
A luta anti-imperialista de Sandino
Que seja o hino da luta anti-capital
Que seja feminino, masculino e plural.

Revolução! Se liga, sangue bom
Com criatividade e indignação
Revolução! Se liga, sangue bom
Vou rimando e com a rima buscando a libertação

domingo, dezembro 18, 2011

Nota de Repúdio da Associação de Geógrafos Brasileiros – AGB, seção São Paulo, à expulsão dos 6 estudantes da Universidade de São Paulo no dia 16 de dezembro de 2011

Nota de Repúdio da Associação de Geógrafos Brasileiros – AGB, seção São Paulo, à expulsão dos 6 estudantes da Universidade de São Paulo no dia 16 de dezembro de 2011

17 de dezembro de 2011

Nós, direção da Associação dos Geógrafos Brasileiros - AGB (seção São Paulo), repudiamos a decisão do reitor João Grandino Rodas e dos dirigentes e conselheiros membros participantes do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo e da Comissão Processante favoráveis à expulsão dos 6 estudantes desta Universidade, decisão publicada no Diário Oficial da União no dia 16 de dezembro de 2011.

Estes estudantes, todos alunos de graduação, de diferentes cursos e Unidades, foram eliminados de todas as suas atividades acadêmicas, não podendo mais reingressar na Universidade de São Paulo de forma nenhuma, seja por seleção de pós-graduação, concurso público ou vestibular. Esses estudantes estavam sofrendo um processo administrativo na Universidade desde 2010, quando ocorreu a ocupação de um andar de um dos blocos do Conjunto Residencial da USP, o CRUSP, em um movimento legítimo de retomada desse prédio para a residência universitária, na época utilizado pela seção administrativa Coseas, que controla e determina todos os recursos, bolsas e projetos de permanência estudantil.

Acreditamos que essas expulsões estão contidas em uma estrutura de poder dentro da Universidade que se constitui de maneira autoritária, em um Conselho Universitário no qual os seus membros não são eleitos de forma direta pelo conjunto da comunidade universitária, em que os representantes discentes e dos funcionários são sempre minoria e voto vencido. É essa estrutura que criou um convênio entre a Universidade e a Policia Militar, permitindo uma ação policial truculenta de desocupação do prédio da reitoria no mês de novembro de 2011, quando a tropa de choque, com cerca de 400 homens, sitiou o CRUSP, com semelhança aos acontecidos na residência universitária em 17 de dezembro de 1968.

Relembramos que hoje completam-se 43 anos da desocupação do mesmo conjunto residencial, ação realizada durante a Ditadura Militar, 4 dias após o AI-5, quando o CRUSP foi invadido pelo exército com tropas e tanques de guerra, e cerca de 800 estudantes moradores foram presos.

Dois estudantes desse grupo de alunos que ontem foram expulsos são geógrafos, e a AGB SP recoloca aqui o repúdio à essa expulsão e o apoio institucional e administrativo à todos os estudantes processados. A AGB SP apóia o movimento pela redemocratização da Universidade, movimento do qual esses estudantes fazem parte

A estupidez. O horror. A barbárie. A guerra


A estupidez. O horror. A barbárie. A

guerra


Enquanto civis inocentes e até crianças são torturadas até a morte e descartadas a sangue frio, o “debate” em muitos meios de comunicação continua sendo se é “correto” divulgar informações sigilosas. Documentário mostra, por exemplo, que The Washington Post sabia das graves violações dos soldados americanos e se omitiu.

Instituto Zequinha Barreto
– Julian, bem vindo. Foi noticiado que o WikiLeaks liberou mais documentos confidenciais do que toda a mídia mundial, junta. Isso não poderia ser verdade.
– Sim, não pode ser verdade. É preocupante, não é mesmo? Que toda a mídia mundial esteja fazendo um trabalho tão ruim. Que um pequeno grupo de ativistas possa ter liberado mais deste tipo de informação do que toda a imprensa mundial.
Trecho do documentário ‘Wikirebels’
A estupidez. O horror. A barbárie. A guerra. A corrupção. Os crimes contra a Humanidade. Aqueles que, neste exato momento, desqualificam o trabalho do WikiLeaks não têm coragem, ou competência, para enxergar os documentos agora expostos. Estão aqui, abaixo. Não continue se não tiver estômago. “Eu comecei a chorar, como fazem todas as pessoas que assistem ao filme”, afirma uma jornalista da Islândia.
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A cena acima não é uma montagem.
Os crimes estão expostos. Americanos que matam sem qualquer motivo. Inocentes. Crianças. Os documentos foram expostos. As cenas gravadas. O crime contra a Humanidade documentado, vazado, exposto. Assista aos documentários abaixo e tire sua própria conclusão.
E o que discutimos? Se é “correto” divulgar. Se Julian Assange é um estuprador ou não. Se ele é uma “ameaça”. Só há duas hipóteses para iniciar o debate nestes termos: ou você é ignorante, ou apoia tais crimes.
Entre outras informações, o WikiLeaks ajudou a divulgar um manual utilizado pelas tropas dos EUA que ensinava como humilhar e torturar seus detentos, de modo que revelassem informações para os americanos.
Revelou ainda, por meio de um relatório confidencial de 2006, que a empresa multinacional Trafigura despejou resíduos tóxicos na Costa do Marfim, causando danos à saúde de dezenas de milhares de pessoas. Assange denunciou ainda, à época, uma mordaça imposta à mídia do Reino Unido.
Outro escândalo revelado foi a corrupção no sistema financeiro da Islândia, em 2008, causando sérios danos à economia do país. Em 9 de outubro de 2008, o Kaupthing Bank HF foi forçado à falência pelo governo – poucos dias após uma crise no Landsbanki ter o levado ao controle do governo. Devido à crise, que afetou todo o sistema financeiro islandês, todas as negociações nos mercados de capital do país foram suspensas em 13 de outubro de 2008.
No dia 29 de julho de 2009, no entanto, o Wikileaks expôs um documento confidencial de 210 páginas revelando que o Kaupthing fez empréstimos entre 45 milhões e 1.250 bilhões de euros. O documento vazado pelo site revelou que o banco havia emprestado bilhões de euros para os seus maiores acionistas, incluindo um total de 1.43 bilhões de libras para uma das maiores empresas do setor financeiro no país, a Exista, e filiais que possuem 23% do banco. Após a revelação, executivos foram presos e a legislação pró-liberdade de imprensa evoluiu, se tornando um exemplo para o mundo.
Um dos mais espantosos vazamentos mostram cenas semelhantes às verificadas nas forças nazistas e fascistas do século XX: soldados norte-americanos matam a sangue frio, a partir de helicópteros, civis inocentes – incluindo dois repórteres da Reuters. “Você de fato vê nos relatos crianças sendo torturadas até a morte. Não é algo que se pode ler sem se afetar pelo que se está lendo”, diz um dos editores dos documentos da guerra do Iraque, em Londres. “A falta de respeito pela vida humana corre normalmente em todo o material”, aponta um documentarista.
Em um trecho, um helicóptero atiraria em um prédio vazio para destruí-lo. Subitamente, um homem se aproxima e passa pela calçada. Os militares americanos poderiam ter esperado. Eles não esperam. Em outro, um homem dentro de um carro é perseguido pelos militares no helicóptero. O homem sai e claramente se rende, de mãos para cima, deitado no chão. Os militares atiram.


sábado, dezembro 17, 2011

Hobsbawm, o profeta de Marx


Hobsbawm, o profeta de Marx


O marxismo é a chave para o entendimento e eventual superação do capitalismo, avalia historiador

17 de dezembro de 2011

Marcos Guterman – O Estado de S.Paulo

Não há nenhum deus além de Karl Marx, e Eric Hobsbawm é seu profeta. Maior historiador marxista ainda em atividade, aos 94 anos, o inglês Hobsbawm dedica sua última obra – Como Mudar o Mundo – Marx e o Marxismo – a mostrar que o filósofo alemão, tido como soterrado pelos escombros do Muro de Berlim, continua a ser a chave para o entendimento do capitalismo e para sua superação, agora em tempos de aquecimento global.
Já em seu livro A Era dos Extremos, Hobsbawm colocou a Revolução Bolchevique como o principal evento do “breve século 20″ – que em sua visão acaba, justamente, na implosão da URSS. “O mundo que se esfacelou no fim da década de 1980 foi o mundo formado pelo impacto da Revolução Russa de 1917″, escreveu ele, para elaborar a teoria segundo a qual todos os processos históricos do período – das alianças diplomáticas aos desdobramentos econômicos globais – tiveram como eixo a instalação do comunismo na Rússia. Trata-se, obviamente, de um exagero. Mas o Marx que Hobsbawm tenta resgatar em seu novo livro não é o de Lenin e de Stalin, nem o dos marxistas contemporâneos, e sim a essência de seu pensamento.
Em Como Mudar o Mundo, reedição de textos escritos entre 1956 e 2009, Hobsbawm trata de diferenciar Marx do marxismo e de sua aplicação extrema, o comunismo – o que é conveniente, ao se observar as atrocidades cometidas em nome da igualdade. Para ele, dizer que o marxismo é responsável por essas tragédias “é o mesmo que afirmar que o cristianismo levou ao absolutismo papal”.
Hobsbawm se localiza entre aqueles que veem Marx como um mapa do caminho para a revolução e os que o encaram simplesmente como teoria. Mostra a ruptura dele com os socialistas utópicos, mas deixa claro o tributo que Marx lhes paga na forma da ideia de que é “inevitável” mudança não apenas de regime de governo, mas de todo o modo de vida sobre a Terra. Nos últimos 130 anos, diz o historiador, Marx foi o tema central da paisagem intelectual e, graças à sua capacidade de mobilizar forças sociais, foi uma presença crucial na história. No entanto, o desgaste provocado pelo colapso da URSS expôs, nas palavras de Hobsbawm, o “fracasso das predições” das teorias marxistas.
De tempos em tempos, anuncia-se que o capitalismo está no fim. Como a história mostra, porém, o moribundo arruma um jeito de se recuperar, entre outras razões porque a classe trabalhadora, que seria o esteio da revolução, sofreu mudanças dramáticas no último meio século, ao ponto de se tornar irreconhecível como “proletariado”. Mas Hobsbawm, em meio à crise global deflagrada em 2008, não resistiu à tentação e escreveu que, desta vez, vai: “Não podemos prever as soluções dos problemas com que se defronta o mundo no século 21, mas quem quiser solucioná-los deverá fazer as perguntas de Marx, mesmo que não queira aceitar as respostas dadas por seus vários discípulos”. Para ele, o futuro do marxismo e da humanidade estão intimamente vinculados.
No entanto, convém relevar o entusiasmo de Hobsbawm. A história mostra que é prudente ler Marx mais como uma forma de entender o mundo do que de mudá-lo.

segunda-feira, novembro 21, 2011

Movimentos sociais, movimento estudantil e prática militante

E, se as formas de organização criadas para isto estão funcionado de maneira insatisfatória, o problema está em ativá-las ou em mudá-las, conferindo-lhes a eficácia que deveriam ter." Leandro Konder



Não creio que vivemos numa "falência", mas sim vivemos numa crise organizacional onde as demandas impostas pela contradição e dinâmica capitalista e a própria reestruturação produtiva e acumulação flexível mudou o cenário da organização social, principalmente a sindical e isso impactou nos movimentos sociais, culminando no que hoje algumas teses defendem como crise organizacional dos movimentos sociais, ou seja, um problema de conjuntura e co-relação de forças que não está nada favorável a classe trabalhadora. 

Primeiro, o que é movimento social? o movimento social é expressão das relações sociais objetivas e subjetivas, determinadas pelas relações entre estrutura e superestrutura no movimento real da totalidade concreta de um determinado período histórico e suas manifestações são estruturais e conjunturais.

A culpa não é do "vilão" capitalismo, mas sim de todas as suas expressões, contradições, complexos dos complexos, já disse Luckás. Não sei que "maquiavelismo" ou "teoria do caos" ou sei lá o que é esse bla bla bla de tática de movimentos sociais, Argumento sem nenhum embasamento, se trata apenas de um julgamento moral a meu ver.

Infelizmente, camaradas, as contradições se dão nos aspectos micro, e macros da dinâmica sociais, e DA's, movimento estudantil são profundamente afetados pelo descenso e refluxo da luta de classes, e infelizmente alguns companheiros só criticam e não movem se quer uma palha para mudar algo. Isso sim é triste.

Obviamente devemos caminhar para uma dita "perfeição" na nossa prática militante, mas com a realidade adversa que vivemos, não é fácil. A construção de valores no movimento estudantil, valores humanos, emancipatórios e autonomos são bastantes complicados, pelo próprio perfil que é a academia e seu distanciamento da classe trabalhadora, então não somos uma bolha da perfeição que não é atingindo pela complexidade que é a dinâmica social, e não podemos reduzir isso a um discurso idealista e romântico.

Obviamente o conceito de representatividade é pequeno-burgues, por que a "representação" exclui, direta ou indireta, a participação de outro ser na política. Mas não podemos utilizar a culpabilização de sujeitos na análise, pois assim chegamos até a um retrocesso de análise, eram os positivistas que faziam isso, não? A participação e a militância no movimento estudantil tem importância fundamental para a formação político-ideológica.


Participar do movimento estudantil implica assumir uma certa autonomia, a tomar posição crítica com relação à instituição escolar e seus muitos mecanismos. A primeira fronteira se rompe, portanto, é a da própria sala de aula [...]. E as fronteiras físicas da universidade em que estudamos também se rompem [...]. E as fronteiras que se acabam por romper são também ideológicas – rompem-se cerca de muitos preconceitos pequeno-burgueses – aprende-se assim, já em princípio, que as saídas individuais não são saídas, mas adequações e que elas, em definitivo, não resolvem nem os problemas individuais mais imediatos, dirá os problemas históricos e sociais mais graves. Por isso, rompe-se a fronteira do imediato (ARAÚJO e SOUSA NETO, 2007, p. 258)


Camaradas, de certo a eleição de uma chapa ou outra para DA não é a tão democracia e emancipação política que queremos, que está no nosso HORIZONTE UTÓPICO. devemos COLETIVAMENTE buscar alternativas de abrir a gestão dos DA e CA's, é uma tarefa fácil? Não, não o é. Mas ai vamos juntas e juntos buscar as soluções para os nossos "problemas."

A realidade do curso de Serviço Social da UFPE é uma realidade para muitas universidades públicas, infelizmente a mudança socio-econômica não anda na mesma velocidade da mudança juridica-politica. Mas devemos entender as universidades, instituições, governos, estados e afins como detentoras de relações AMPLIADAS, complexas, e contraditórias, Mais uma vez aqui o dito complexos dos complexos, unidade dos contrários. Isso só uma negação da negação para "resolver". (ignorem o etapismo)


A tal UNE, (UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES), entidade histórica e legitima criada a partir da necessidade de organizar as lutas estudantis infelizmente vive um MOMENTO DE CONJUNTURA E CO-RELAÇÃO DE FORÇAS QUE NÃO É AO "NOSSO" FAVOR. Como assim o foi em outros momentos históricos e que a partir da disputa e luta conseguimos reaver, mas que depois também foi tomada por um grupo que hoje vai numa perspectiva ala direita. é um braço do governo? É, em sua maioria. devemos reconquista a UNE, disputá-la, no debate, na conversa, nas propostas, é bem dificil fazer isso tendo em vista os valores capitalistas e pequeno-burgueses empregados pela maioria, como dinheiro, sexo, comida e bebida, e algumas drogas... mas camarada, é uma tarefa para tod@s os estudantes. Pois criar outra entidade ou aboli-las de vez com certeza não solucionará todos os empasses, desafios e dilemas que enfrenta o movimento estudantil de esquerda na atualidade. Não nesse dado momento histórico.

Infelizmente é isso, eles CONSEGUEM DIALOGAR COM A POPULAÇÃO, coisa que a extrema esquerda ou seja lá o que for não consegue fazer. É um desafio que está posto camarada, cabe-nos fazer ALGUMA COISA.

Não se trata de legitimar ou não a entidade camaradas, vejo que o buraco é mais em "cima".  Mas é entender que o problema não é unica e exclusivamente da gestão. Não podemos cair nesse discurso de bom e mau, vilão e herói. A situação é mais complexa do que parece, até onde sei, na UFPE, os estudantes de Serviço Social deram e dão enormes contribuição para o ME, o MESS e a ENESSO, pelo menos uma parte que se dispões dias e dias da sua vida a construir uma categoria forte e um projeto ético político que vise a emancipação, a liberdade, a democracia. Eu sei que existem dois grupos disputando a gestão do DASS, um deles até exageram na critica a UNE, outros entendem a UNE em sua totalidade. 

Como você disse o problema não é de direção, é de conjuntura e co-relação de forças, mas a gestão pode fazer sim uma pequena diferença. Tendo em vista todo o histórico e legitimidade da UNE, Que queiramos ou não, tem respaldo nessa torcida organizada que é a UJS, nas escolas particulares e nos reunistas e prounistas. E eles são também trabalhadores, como eu, você e outros companheiros.

Infelizmente o movimento estudantil tem essas práticas de coleguismo, capismo, e afins, por ter suas particulares estruturais, por ser um movimento ciclico que pouco consegue dar continuidade e coesão. Por ser sim HETEROGENEO , CICLICO E POLICLASSISTAS. Mas são desafios que estão postos para toda a militancia. Cabe-nos combater essas práticas.

O problema é, na minha opinião, julgar alguém de pseudo-revolucionário ou não... cara, a prática nos dirá. Não podemos idealizar um tipo X de militancia. devemos caminhar para tal militancia, que dificilmente se dará sem um processo revolucionário.

O movimento estudantil deve ser autonomo, sim o deve. mas não podemos descartar que as bandeiras a ser defendidas pelo ME as vezes se entrelaçam com bandeiras de partidos, principalmente o MESS por sua maturidade política de sua luta associada a um projeto de sociedade... No mais peço que os compas que respondam tal acusação.

Eu construo o MPL, mas até que ponto existe auto-gestão? Vamos juntos buscar as respostas. Mas, cammarada, não se pode comparar o "incomparavel".

O papel de uma organização na história é interpretar os desafios que as circustancias apresentam e tentar resolvê-los, criando novas circustancias. Vivemos, infelizmente, num tempo de vazio de alternativas, de ideias e iniciativas, que leva cada vez mais a sociedade a bárbarie. No mais temos que nos concentrar nesse momento adverso num processo simples e complexo ao mesmo tempo, o processo de crítica e auto-crítica , de maneira fraterna e construtiva. Não nascemos militantes, nos fazemos militantes e poderemos deixar de ser no momento em que deixarmos de transformar a nós mesmos e a nossa volta (dentro de como podemos) no fazer cotidiano.

Precismaos combater a espontaneidade, elevar o nivel de consciencia da classe trabalhadora e ir além da "luta imediata". 

O indivíduo isolado, normalmente, não pode faze história: suas forças são muito limitadas. Por isso, o problemas da organização capaz de levá-lo a multiplicar suas energias e ganhar eficácia é um problema crucial para todo revolucionário. É preciso que a organização não se torne opaca para o indivíduo, que ele não se sinta perdido dentro dela; é preciso que ela não o reduza a uma situação de impotência contemplativa ou a um ativismo cego. Se não, o indivíduo fica impossibilitado de atuar revolucionariamente e se sente alienado na atividade coletiva.


Shellen Galdino, em resposta a um email meio anarco na lista da enesso regional. =) me inspirei ó 

HAHAHAHAHAHA

=)




email: PARA QUE VOTAR NAS ELEIÇÕES DO DASS?



Vemos hoje uma falência nas táticas de luta nos movimentos populares, seja no meio estudantil, sindical, etc. Mas será que essas não aglutinação, apatia, se deve apenas por causa do sistema capitalista que fomenta isso a todos instantes ? Será que isso também não é uma tática de vários movimentos que visam dirigir as massas e colocam aqueles que deviam lutar ombro a ombro como incapazes de fazer a politica que regerá suas vidas.
Mais triste é vemos tais processos se repetirem em em pequenos espaços onde deveriam ser o lugar onde se mostraria que é perfeitamente possível fazermos uma politica de outra forma da qual cotidianamente vemos, uma politica totalmente coerente com o que queremos, baseada nas mais fortes bases que podem haver, a solidariedade, o apoio mutuo, a democracia direta, a ação direta.
Espaços como um D.A deve servir para todos estudantes e não somente para um grupo eleito pela ditadura da maioria, isso não é democracia, democracia se faz diretamente, esse conceito de representatividade é um conceito burgues deturpado do que realmente significa democracia.

O pior é ainda nos encontramos em tal situação como vive o curso de Serviço Social da UFPE, ainda vivendo sob a legitimidade a uma entidade totalmente aparelhada, governista, que usa do aparato policial pra fazer o papel que o estado hoje a demanda-a. 
A tal UNE ( união neoliberal dos estudantes ) que vive sob o comando do mesmo grupo desde sua volta em 1979, ainda na ditadura, é hoje o maior braço dos parlamentares no governo, em nosso caso, municipal, estadual e federal, para implementação de suas politicas, pois se um dia ele foi de luta hoje luta contra os estudantes, onde podemos lembrar as maiores pautas que nos apareceram nos últimos anos como o REUNI e aumento de passagens em varias cidades. No primeiro caso a UNE se colocou junto a policia na desocupação da USP, para citar o maior caso, onde houve confrontos com outros estudantes alí ocupados e no caso da UFPE, fez passeatas contra a ocupação da reitoria e chamou os ocupantes de burgueses que não queria que abrissem vagas paras os pobres, escondendo totalmente o que verdadeiramente é o REUNI.
No segundo caso podemos citar o nosso aqui em Pernambuco, onde em 2005 os estudantes da UNE trabalharam junto a policia indicando aqueles que não agiam ordeiramente, “os baderneiros” , dando um simples OK e falando, esse pode levar, e vários estudantes detidos foram levados pra quarteis e pra matas do exercito, como a perto do shopping Tacaruna, e lá torturados.

Não sitamos aqui que os estudantes presentes na/s chapa/s legitimem diretamente tais atos, mas ao legitimar tal entidade legitima-se suas ações. Não devemos também cair mais uma vez no simples discurso que isso é um problema de direção, pois não o é, deixemos tal discurso para os que se colocam como “esquerda da UNE” , que na verdade tem nomes claros para quem ainda se coloca dentro de uma entidade que dizem ter divergências, oportunismo, peleguismo.




Tais grupos por muitas vezes se colocam como diferentes, que não é a mesma politica vista lá fora dos muros da universidade, ou de um simples centro, se aproveitando por serem pessoas que sempre a vemos nos nossos corredores, que é da mesma sala que nós, etc. Ou seja o discurso do coleguismo, o que faz que muitos votem em tais. O coleguismo é apenas uma trava para o pensamento critico do processo posto e assim ficamos apenas com nossos coleguinhas de curso e seus cartazes, assimilando no máximo seus dizeres, que por vezes são belos, que falam de liberdade, sociedade emancipada, autonomia, ora, isso não passa de palavreados pseudo revolucionários. Para isso avaliemos tais palavras,brevemente.
Como falar de autonomia um grupo que se coloca dentro da UNE, dentro de UM coletivo que também a legitima, o quebrando pedras e plantando flores, nome dado também a ultima gestão, onde vemos já pela sua carta de princípios demandas de um partido, será que foi coincidência ? o mesmo partido que participou das 2 semanas dos movimentos sociais feita por esse grupo, participou do coress, falamos aqui do PCB, será tudo coincidência ?
Autonomia implica diretamente em um não aparelhamento e será que isso não acontece ?
Como assim falarmos de uma sociedade emancipada, se nos mínimos espaços não rumamos para isso ? Uma outra politica que nos levará a outro mundo só será uma politica que seja totalmente coerente com os fins que dizemos tanto querer. Uma sociedade sem classes, só virá se agirmos ombro a ombro com todos que verdadeiramente a deseja, levando nossas lutas pelos caminhos da ação direta, da autogestão, da não burocratização de nossos espaços, isso é o que devemos pautar em todos os campos que vivemos.
Um D.A só será de todos estudantes de fato, se todos poderem dele participar como qualquer outro, isso implica em outra forma de luta, na não legitimação de espaços como o de uma eleição, que não passa de uma falsa legitimação para um grupo.
Não cairemos também no discurso de que o D.A é aberto, venha construir conosco, isso é um discurso que só pode fortalecer a situação, Querer que você trabalhe para outros levarem a fama.
Mais que tudo passamos por um problema Estrutural, não é apenas mudando o grupo na gestão do D.A ou apenas o nome que iremos nos movimentar para algo novo. 
Busquemos pelo novo, já temos pelo Brasil vários diretórios autogeridos onde a abertura já fez trazer vários estudantes para os quadros de uma luta mais legitima. Não vamos cair no discurso daqueles que temem a liberdade, que dizem que autogestão não funciona, olhemos o caso do do diretório de ciências sociais da UFPE, onde agora temos institucionalmente uma autogestão e vemos um grupo que vem puxando vários debates e ações como o caso do professor que assediou uma estudante, copa do mundo, apoio a USP, universidade democrática...
Olhemos para movimentos como o MPL, Movimento pelo passe-livre, movimento autogerido, federalizado, que age pela ação direta, mostrando que tais táticas caminham para o viés de algo mais justo que essa politica, e assim, vemos que isso é perfeitamente possível.

A politica só pode ser feita se for por nossas mãos. 
Ninguém estuda por você
Ninguém Faz politica por você.




O escravo moderno está convencido de que não existe alternativa na organização do mundo atual. Ele se resignou a esta vida porque pensa que não pode haver outra. E é ai mesmo que se encontra a força da dominação presente: entreter a ilusão desse sistema que colonizou toda a face da Terra é o fim da história. Convenceu a classe dominada que adaptar-se a sua ideologia é como adaptar-se ao mundo tal qual se mostra e como sempre foi. Sonhar com outro mundo se tornou um crime criticado unanimemente pelos meios de comunicação e os poderes públicos. O criminoso é na realidade aquele que contribui, consciente ou não, na demência da organização social dominante. Não existe loucura maior que a do sistema atual.

segunda-feira, novembro 14, 2011

O evangelho de Google


O evangelho de Google




Deus existe, chama-se Google, e alguns de nós consultam-no e fazem-lhe pedidos todos os dias.
A tese da divindade do santuário de busca mais freqüentado da terra, pregada ardentemente pelo tecno-profeta Matt MacPherson, ainda não foi, que eu saiba, refutada a contento.
Uma página apologética do sáite A Igreja de Google argumenta sensatamente que “existe mais evidência em favor da existência de Google do que de qualquer outro deus adorado nos nossos dias”.
Se você se preocupa com esse tipo de coisa, o Google encaixa-se confortavelmente dentro de alguns dos mais exigentes atributos que a teologia ortodoxa estabeleceu para Deus: ele é onisciente (sabe tudo que há para se saber – basta perguntar), onipresente (esta em e é acessível de todos os lugares, ainda mais com acesso wireless), imortal (suas informações e algoritmos estão distribuídos entre vários servidores, de modo que não há como se apagardefinitivamente uma porção do Google), registra todos os nossos erros e preferências e tem vocação para infinito.
Para o adorador casual, mais importante pode ser saber que o Google responde consistentemente as orações que se lhe fazem, e de forma mais rápida, organizada, relevante e abrangente do que qualquer deus competidor. As orações ao Google, que na tecno-ortodoxia chamam-se buscas, têm um potencial de resposta avassalador. Se você quer permanecer ignorante a respeito de determinada coisa, é melhor não consultar o oráculo do Google – o deus cego e generoso que tudo vê, tudo sabe e nada vai negar.
O REINO DE GOOGLE ESTÁ PRÓXIMO.

O Google pode ajudá-lo a organizar-se e manter-se informado, pode fornecer informações sobre como salvar uma vida ou tirá-la, pode oferecer uma cópia de segurança para os seus arquivos quando seu computador fritar, pode ajudá-lo a encontrar amigos há muito perdidos, a encontrar o caminho mais rápido e eficiente para determinado lugar ou a ver a Terra de cima.
Seu poder e sua sabedoria não páram de crescer, sua graça é abundante sobre justos e injustos, suas atualizações renovam-se a cada manhã.
O que me traz invariavelmente à lembrança o curtíssimo conto de ficção científica de Fredric Brown, “Answer”, de 1954. Num futuro distante autoridades estelares ligam pela primeira vez o interruptor que conecta os supercomputadores de noventa e seis bilhões de planetas “numa máquina cibernética que combina todo o conhecimento de todas as galáxias”.
– A honra de fazer a primeira pergunta é sua, Dwar Reyn.
Ele vira-se para olhar a máquina de frente.
– Deus existe?
A voz poderosa responde sem hesitação, sem o clique de um único relé.
– Agora existe.
Na história eles até tentam desligar o interruptor, mas é tarde demais. O reino de Google está próximo.
http://www.baciadasalmas.com/2006/o-evangelho-de-google/

domingo, novembro 06, 2011

Viver entre os 1%


11/2011 - 17h21 | Michael Moore | Nova York

Viver entre os 1%

 
 

Amigos,
 
Há 22 anos, que se completam nesta terça-feira, estava com um grupo de operários, estudantes e desempregados no centro da cidade onde nasci, Flint, Michigan, para anunciar que o estúdio Warner Bros, de Hollywood, comprara os direitos de distribuição do meu primeiro filme, “Roger & Me”. Um jornalista perguntou: “Por quanto vendeu?”
 
“Três milhões de dólares” – respondi com orgulho. Houve um grito de admiração, do pessoal dos sindicatos que me cercava. Nunca acontecera, nunca, que alguém da classe trabalhadora de Flint (ou de lugar algum) tivesse recebido tanto dinheiro, a menos que um dos nossos roubasse um banco ou, por sorte, ganhasse o grande prêmio da loteria de Michigan. 
 
Naquele dia ensolarado de novembro de 1989, foi como se eu tivesse ganho o grande prêmio da loteria – e o pessoal com quem eu vivia e lutava em Michigan ficou eufórico com o meu sucesso. Foi como se um de nós, finalmente, tivesse conseguido, tivesse chegado lá, como se a sorte finalmente nos tivesse sorrido. O dia acabou em festa. Quando se é trabalhador, de família de trabalhadores, todos cuidam de todos, e quando um se dá bem, ou outros vibram de orgulho – não só pelo que conseguiu ter sucesso, mas porque, de algum modo, um de nós venceu, derrotou o sistema brutal contra todos, sem mercê, que comanda um jogo cujas regras são distorcidas contra nós.
 
Nós conhecíamos as regras, e as regras diziam que nós, ratos das fábricas da cidade, nunca conseguíamos fazer cinema, ou aparecer em entrevistas na televisão ou conseguíamos fazer-nos ouvir em palanque nacional. A nossa parte deveria ser ficar de bico calado, cabeça baixa, e voltar ao trabalho. E, como que por milagre, um de nós escapara dali, estava a ser ouvido e visto por milhões de pessoas e estava ‘cheio de massa’ – santa mãe de deus, preparem-se! Um palanque e muito dinheiro... agora, sim, é que os de cima vão ver!
 
Naquele momento, eu sobrevivia com o subsídio de desemprego, 98 dólares por semana. Saúde pública. O meu carro morrera em abril: sete meses sem carro. Os amigos convidavam-me para jantar e sempre pagavam a conta antes que chegasse à mesa, para me poupar ao vexame de não poder dividi-la.
 
E então, de repente, lá estava eu montado em três milhões de dólares. O que eu faria do dinheiro? Muitos rapazes de terno e gravata apareceram com montes de sugestões, e logo vi que, quem não tivesse forte sentido de responsabilidade social, seria facilmente arrastado pela via do “eu-eu” e muito rapidamente esqueceria a via do “nós-nós”.
 
Em 1989, então, tomei decisões fáceis:
 
1. Primeiro de tudo, pagar todos os meus impostos. Disse ao sujeito que fez a declaração de rendimentos, que não declarasse nenhuma dedução além da hipoteca; e que pagasse todos os impostos federais, estaduais e municipais. Com muita honra, paguei quase um milhão de dólares pelo privilégio de ser norte-americano, cidadão deste grande país.
 
2. Os 2 milhões que sobraram, decidi dividir pelo padrão que, uma vez, o cantor e activista Harry Chapin me ensinou, sobre como ele próprio vivia: “Um para mim, um para o companheiro”. Então, peguei metade do dinheiro – e criei uma fundação para distribuir o dinheiro.
 
3. O milhão que sobrou, foi usado assim: paguei todas as minhas dívidas, algumas que eu devia aos meus melhores amigos e vários parentes; comprei um frigorífico para os meus pais; criei fundos para pagar a universidade das sobrinhas e sobrinhos; ajudei a reconstruir uma igreja de negros destruída num incêndio, lá em Flint; distribuí mil perus no Dia de Ação de Graças; comprei equipamento de filmagem e mandei para o Vietnã (a minha ação pessoal, para reparar parte do mal que fizemos àquele país, que nós destruímos); compro, todos os anos, 10 mil brinquedos, que dou a Toys for Tots no Natal; e comprei para mim uma moto Honda, fabricada nos EUA, e um apartamento hipotecado, em Nova York.
 
4. O que sobrou, depositei numa conta de poupança simples, que paga juros baixos. Tomei a decisão de jamais comprar ações. Nunca entendi o cassino chamado Bolsa de Valores de Nova York, nem acredito em investir num sistema com o qual não concordo.
 
5. Sempre entendi que o conceito do dinheiro que gera dinheiro criara uma classe de gente gananciosa, preguiçosa, que nada produz além de miséria e medo para os pobres. Eles inventaram meios de comprar empresas menores, para imediatamente as fechar. Inventaram esquemas para jogar com as poupanças e reformas dos pobres, como se o dinheiro dos outros fosse dinheiro deles. Exigiram que as empresas sempre registassem lucros (o que as empresas só conseguiram porque despediram milhares de trabalhadores e acabaram com os serviços de saúde pública para os que ainda tinham empregos). Decidi que, se ia afinal ‘ganhar a vida’, teria de ganhá-la com o meu trabalho, o meu suor, as minhas ideias, a minha criatividade. Eu produziria produtos tangíveis, algo que pudesse ser partilhado com todos ou de que todos gostassem, como entretenimento, ou do qual pudessem aprender alguma coisa. O meu trabalho, sim, criaria empregos, bons empregos, com salários decentes e todos os benefícios de assistência médica.
 
Continuei a fazer filmes, a produzir séries de televisão e a escrever livros. Nunca iniciei um projecto pensando “quanto dinheiro posso ganhar com isso?”. Nunca deixei que o dinheiro fosse a força que me fizesse fazer qualquer coisa. Fiz, simplesmente, exatamente o que queria fazer. Essa atitude ajuda a manter honesto o meu trabalho – e, acho, ao mesmo tempo, que resultou em milhões de pessoas que compram bilhetes para assistir aos meus filmes, assistem aos programas que produzo e compram os meus livros.
 
E isso, precisamente, enlouqueceu a direita. Como é possível que alguém da esquerda tenha tanta audiência no ‘grande público’?! Não pode ser! Não era para acontecer (Noam Chomsky, infelizmente, não vai aparecer no Today View de hoje; e Howard Zinn, espantosamente, só chegou à lista dos mais vendidos do New York Times depois de morto). Assim opera a máquina dos meios de comunicação. Está regulada para que ninguém jamais ouça falar dos que, se pudessem, mudariam todo o sistema, para coisa muito melhor. Só liberais sem personalidade, que vivem de exigir cautela e concessões e reformas lentas, aparecem com os nomes impressos nas páginas de editoriais dos jornais ou nos programas da televisão aos domingos.
 
Eu, de algum modo, encontrei uma brecha na muralha e meti-me por ali. Sinto-me abençoado, podendo viver como vivo – e não ajo como se tudo fosse garantido para sempre. Acredito nas lições que aprendi numa escola católica: que se tens sucesso, maior é a tua responsabilidade por quem não tenha a mesma sorte. “Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos.” Meio comunista, eu sei, mas a ideia é que a família humana existe para partilhar com justiça as riquezas da terra, para que os filhos de Deus passem por esta vida com menos sofrimento.
 
Dei-me bem – para autor de documentários, dei-me super bem. Isso, também, faz enlouquecer os conservadores. “Você está rico por causa do capitalismo!” – gritam. Hummm... Não. Não assistiram às aulas de Economia I? O capitalismo é um sistema, um esquema ‘pirâmide’ que explora a vasta maioria, para que uns poucos, no topo, enriqueçam cada vez mais. Ganhei o meu dinheiro à moda antiga, honestamente, fabricando produtos, coisas. Nuns anos, ganho uma montanha de dinheiro, noutros anos, como o ano passado, não tenho trabalho (nada de filme, nada de livro); então, ganho muito menos. “Como é que você diz que defende os pobres, se você é rico, exatamente o contrário de ser pobre?!” É o mesmo argumento de quem diz que, “Você nunca fez sexo com outro homem! Como pode ser a favor do casamento entre dois homens?!"
 
Penso como pensava aquele Congresso só de homens que votou a favor do voto para as mulheres, ou como os muitos brancos que foram às ruas, marchar com Martin Luther Ling, Jr. (E lá vem a direita, aos gritos, ao longo da história: “Hei! Você não é negro! Você nem foi linchado! Por que está a favor dos negros?!”). Essa desconexão impede que os Republicanos entendam por que alguém dá o próprio tempo ou o próprio dinheiro para ajudar quem tenha menos sorte. É coisa que o cérebro da direita não consegue processar. “Kanye West ganha milhões! O que está a fazer lá, em Occupy Wall Street?!”. Exatamente – lá está, exigindo que aumentem os impostos a ele mesmo. Isso, para a direita, é definição de loucura. Todo o resto do mundo somos muito gratos que gente como ele se tenha levantado, ainda que – e sobretudo porque – é gente que se levantou contra os seus interesses pessoais financeiros. É precisamente a atitude que a Bíblia, que aqueles conservadores tanto exaltam por aí, exige de todos os ricos.
 
Naquele dia distante, em novembro de 1989, quando vendi o meu primeiro filme, um grande amigo meu disse o seguinte: “Eles cometeram um erro muito grave, ao entregar tanto dinheiro a um sujeito como tu. Essa massa fará de ti um homem perigosíssimo. É prova do acerto do velho dito popular: ‘Capitalista é o sujeito que te vende a corda para enforcar a ele mesmo, se achar que, na venda, pode ganhar algum dinheiro.”

segunda-feira, dezembro 26, 2011

Lições cubanas para a saúde do povo brasileiro

Um grupo de 11 médicos brasileiros de Pernambuco, Bahia, Paraíba e Minas Gerais fomos a Cuba conhecer seu Sistema Nacional de Saúde em novembro de 2011, durante duas semanas, através de um curso organizado pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSAP). Todos éramos médicos da Atenção Primária no Sistema Único de Saúde e levamos à ilha uma questão central: o que podemos aprender com o povo cubano para garantia do direito à saúde no Brasil?
 
Porque Cuba
Uma pequena ilha, com cerca de 11 milhões de habitantes e um território um pouco maior que o estado de Pernambuco. Nos últimos anos, em meio a crises de qualidade e sustentação financeira dos serviços de saúde em todo o mundo, Cuba tornou-se uma referência.

E os resultados objetivos justificam a admiração pela saúde em Cuba. Antes da Revolução, o povo cubano vivia menos de 60 anos, 60 a cada 1.000 crianças morriam até um ano de idade e havia apenas 6 mil médicos no país, 56% dos quais viviam em Havana. Para agravar a situação, metade deles saiu do país após a Revolução Democrática e Popular de 1959.

Hoje a expectativa de vida média é 78 anos e o idoso que chega aos 80 anos vive mais 7,6 anos em média. A mortalidade infantil é de 4,5 crianças para cada 1.000 nascidos vivos e a mortalidade materna é 30 a cada 100.000 gestações. Foram erradicadas do país a poliomielite em 1962, a difteria em 1979, o sarampo em 1993 e a rubéola em 1995. As doenças que mais matam em Cuba são enfermidades cardiovasculares, tumores malignos e doenças vasculares cerebrais, um padrão típico de países desenvolvidos.
 
A Saúde em Cuba

O Sistema Nacional de Saúde em Cuba é universal, integral, gratuito, regionalizado e ao alcance de todos os cidadãos sem discriminações religiosas, políticas, por raça ou etniaO dever do Estado na garantia do direito à saúde está definido na Constituição da República. O sistema é orientado e coordenado pela base – como costumam se referir à Atenção Primária. E Cuba investe 18% do seu Produto Interno Bruto em saúde pública (no Brasil, essa cifra é de 3,4%).
 
O direito às creches é universal em Cuba, serviço cujo impacto positivo na saúde de uma criança já está comprovado por evidências científicas. Os chamados Círculos Infantis são serviços providos pelo Estado e garantem que as crianças pré-escolares sejam cuidadas durante as horas de trabalho dos pais.   O acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das crianças menores de um ano é feito por médicos de família em trabalho conjunto com pediatras, que vão às unidades básicas de saúde uma vez por semana. O calendário vacinal compreende 12 agentes patológicos, dentre elas a vacina desenvolvida em Cuba contra a bactéria meningocócica B.

A violência social, que adoece famílias no Brasil, é insignificante em Cuba. Tráfico de drogas, assassinatos, conflitos entre facções rivais,  mortalidade elevada de jovens por causas externas e disputa entre Estado e grupos para-militares são temas conhecidos através de filmes e histórias brasileiras.

As gestantes fazem em média 12 consultas de pré-natal, entre avaliações do médico de família e do obstetra, e todas fazem pelo menos uma Ultra-Sonografia. Os cubanos desenvolveram um serviço chamado Hogar Materno no qual gestantes com risco são acompanhadas em permanência-dia ou internação para controle de fatores que podem levar a um mal desfecho gestacional, como baixo peso, anemia, problemas familiares ou longa distância geográfica da maternidade. Além disso, as mulheres que não desejam concluir uma gestação podem interrompê-la com assistência de um serviço de saúde conforme pactuação com a equipe médica.

A saúde dos idosos é prioridade em Cuba. Em diversos serviços públicos, como escolas e academias populares, são organizados Círculos de Abuelos, onde os idosos fazem exercícios físicos, atividades cognitivas e convivência social. Os idosos sadios que ficam sós enquanto seus familiares trabalham podem ser acompanhados pela Casa de Abuelos, onde fazem trabalhos manuais, horta comunitária, exercício físico e atividades lúdicas sob supervisão de terapeutas ocupacionais e educadores físicos. Já famílias com idosos dependentes e acamados contam com o apoio do Estado que disponibiliza um cuidador domiciliar diariamente ou recorrem aos Hogares de Ancianos, equivalentes às Instituições de Longa Permanência em nosso país (conhecidas como Asilos), com a diferença de que em Cuba são um direito social garantido pelo Estado.

Atualmente, Cuba conta com 72,5 mil médicos, sendo que 36 mil deles atuam na Atenção Primária e 26 mil são especialistas em Medicina Geral e Integral (a especialidade equivalente no Brasil, chamada Medicina de Família e Comunidade, conta com 1.500 especialistas de um universo de 31.500 médicos que trabalham no Programa Saúde da Família). E não faltam bons médicos nos Postos de Saúde ou regiões rurais de difícil acesso. Um médico e uma enfermeira de família compõem um Consultório de Família, equivalente a uma Equipe de Saúde da Família no Brasil. São profissionais que vivem nas próprias comunidades em que trabalham e são responsáveis por, no máximo, 1.500 pessoas. Um grupo de até 20 Consultórios tem referência em um Policlínico, onde se encontram diversas especialidades médicas, outros profissionais de saúde, exames complementares e vacinação.

As práticas de Medicina Popular e Tradicional foram incorporadas aos Consultórios de Médico e Enfermeira da Família e aos Policlínicos. E graças ao desenvolvimento de pesquisas médicas autônomas, Cuba cria tecnologias próprias, como a medicação chamada Heberprot-P para feridas crônicas em pacientes com Diabetes Melitus que está sendo exportada para outros países. Como se não bastasse, um princípio cubano é a solidariedade: há 17 mil médicos e 23 mil outros trabalhadores da saúde em Missões Internacionais em 74 países, além de 24 mil jovens de 105 países que estudam medicina em Cuba.

São apenas alguns exemplos. Poderíamos citar também os serviços hospitalares descentralizados, os transplantes de órgãos e as tecnologias modernas de diagnóstico e tratamentos disponíveis, apesar do Bloqueio Norte Americano que impede, por exemplo, o uso de um medicamento para tratamento da leucemia em crianças que não respondem a quimioterápicos usuais.

Mas, existem desafios. Cuba enfrenta hoje o tema do tabagismo, hábito cultural e fonte de divisas importante para a economia nacional, diretamente relacionado às causas maiores de mortalidade. Além disso, é fundamental valorizar a moeda nacional e o salário dos trabalhadores, inclusive dos profissionais de saúde. O estímulo aos trabalhos por conta própria e luta contra o Bloqueio Norte Americano são medidas nesse sentido.
 
Lições para o povo brasileiro
Não há fórmulas prontas. O processo histórico de construção de uma sociedade e um sistema de saúde tem singularidades e particularidades. O povo cubano, inclusive, destacou-se na história por não aceitar imposição de modelos e construir suas mudanças com soberania. Mas, há lições importantes para os que desejam o direito à saúde para o povo brasileiro.

No Brasil, também tivemos conquistas populares no setor saúde com as lutas pela construção do SUS. Ao longo de seus 23 anos, conseguimos aumentar a expectativa de vida para 73,1 anos e reduzir a mortalidade infantil para 21,17 por 1.000 crianças nascidas vivas (vale lembrar as disparidades regionais, a ponto de Alagoas ter uma mortalidade infantil de 46 por 1.000). Resultados modestos se comparados aos cubanos. Nossos desafios são muitos.

Nessa vivência em Cuba, ficamos emocionados e inquietos ao lembrar das famílias que cuidamos e muitas vezes sofrem e adoecem por problemas que em Cuba foram superados há 50 anos. No Brasil, e não em Cuba, ainda existe baixa cobertura de serviços de atenção primária, carência de médicos em áreas remotas e periferias urbanas, concentração de médicos em setores privados de saúde, financiamento insuficiente.

E aprendemos com o povo cubano duas lições centrais: saúde se conquista com a garantia de outros direitos sociais e somente a vontade política garante saúde como um direito de todos e dever do Estado.  

Na sociedade brasileira, o Direito à Saúde somente será garantido com reformas estruturais: educação pública e de qualidade em todos os níveis, rede de proteção e assistência social ampla e eficiente, moradias saudáveis, alimentos acessíveis e sem agrotóxicos, melhores condições de trabalho e bons salários para todos os trabalhadores. Por isso, são fundamentais a ação dos movimentos populares, estudantis e sindicais no Brasil para fortalecer a Atenção Primária e o SUS, lutar contra as privatizações na saúde, banir o uso de agrotóxicos e fazer avançar as transformações profundas da sociedade brasileira. E façamos a nossa opção soberana por um projeto popular para o Brasil.
 
Bruno Abreu Gomes – Pedralva
Cuba, 3 de dezembro de 2011
Dia latino-americano da Medicina

NENHUMA DELAS É CUBANA


Por Celino Cunha

No último balanço do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) pode ler-se que actualmente existem no mundo 146 milhões de crianças menores de 5 anos com graves problemas de desnutrição. De acordo com este documento, 28% são de África, 17% do Médio Oriente, 15% da Ásia, 7% da América Latina e Caribe, 5% da Europa e 27% de outros países em desenvolvimento.

O relatório é inequívoco e informa que Cuba já não tem este problema, sendo o único país da América Latina que eliminou definitivamente a desnutrição infantil e que tudo tem feito para melhorar a alimentação, especialmente nos grupos mais vulneráveis. A própria Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) reconhece Cuba como a nação com mais avanços neste capítulo em toda a América Latina.

Isto deve-se fundamentalmente a que o Estado Cubano garante uma cesta básica alimentar e promove os benefícios da lactância materna, complementando-a com outros alimentos até aos seis meses e fazendo a entrega diária de um litro de leite para todas as crianças dos zero aos sete anos de idade, em conjunto com outros alimentos como compotas, frutas e legumes, os quais são distribuídos de forma equitativa.

CUBA SOCIALISTA E REVOLUCIONÁRIA!



Essa semana a Rede Globo de Televisão resolveu atacar através do Jornal Nacional o regime cubano... a poucos instantes relataram dados colhidos pela Universidade de Miame falando sobre o desemprego...falaram que a saúde em Cuba é a base do coleguismo e suborno... que só era bom na época dos subsídios da URSS... Mas esqueceram de falar a verdade, que o País resiste a mais de 50 anos de embargo econômico, que é proibido de manter relações comerciais com boa parte dos países que tem medo de retaliações dos EUA, e que mesmo assim, o povo cubano defendo o seu país de tais mentiras...Vida longa a revolução Cubana...Viva ao povo cubano...VIVA A CUBA!!!

sexta-feira, dezembro 23, 2011

Rimas da libertação

Rimas da Libertação. Música de "O Levante", do coletivo 


Lutarmada. "Revolução! / se liga sangue bom!! / com 


criatividade e indignação".



Rimas da libertação
Brotando do chão da periferia
A indignação se transforma em poesia
Que desvenda os olhos
E destapa os ouvidos
Pra fatos esquecidos ou que estavam escondidos
Como a guerrilha do Araguaia no regime militar
Pedaço da nossa história que a imprensa não pôde contar
Hass Sobrinho, Osvaldão, Elza Monerat
Quando ouvir nosso som você vai se lembrar
Dos pretos estadunidenses
No instante seguinte
Ao assassinato do pastor Martin Luther King
Vai lembrar do seqüestro do embaixador suíço
Trocado por 70 presos políticos
Dos quartéis, dos presídios direto pro exílio
E no Chile de Allende foram acolhidos
Obra assinada pela VPR de Lamarca, companheiro de Iara Iavelberg
Vai lembrar de Conselheiro defendendo Canudos
E do verdadeiro MR8 de outubro
Dos versos de Gil Scott-Heron e de Zé Ramalho
Esse som reverencia Apolônio de Carvalho
No Brasil e na Europa, exemplo de conduta
Mais de 60 anos dedicados à luta

Revolução! Se liga, sangue bom
Com criatividade e indignação
Revolução! Se liga, sangue bom
Vou rimando e com a rima buscando a libertação

– Abaixo a ditadura
Última frase dita por Zequinha antes de acabarem com a sua vida
Ele morreu por mim, por você, por todos nós
Esse rap é pra fazer ecoar a sua voz
Pra espalhar pro mundo o exemplo da Comuna de Oaxaca
É o poder popular no país de Zapata
Como o povo de Caracas que dos morros descia
E abortava um golpe de Estado que ainda nascia
Imagine só 30 pretos armados
Ocupando a assembléia do Estado
Da Califórnia, pra garantir o direito à autodefesa
Esse som é pra fazer lembrar dos Panteras Pretas
E de Ho Chi Mihn comandando no Vietnã
A guerra de guerrilhas que humilhou o Tio Sam
Esse rap é um resgate, é pra que ninguém se esqueça
De Gregório Bezerra e da Revolta dos Malês, de 2006, dia 8 de março
Laboratório da Aracruz, tudo em pedaços
Lá se foi pro espaço 20 anos de pesquisa
E viva a mulherada da Via Campesina
Revolução! Se liga, sangue bom
Com criatividade e indignação
Revolução! Se liga, sangue bom
Vou rimando e com a rima buscando a libertação

Aliança do balanço com a vontade de mudança
Quem escuta o nosso som raciocina enquanto dança
Quero que esse rap invada as vielas
Ecoando o grito de libertação de Marighella
Que soe em defesa das nossas comunidades
Como Zumbi defendeu o Quilombo dos Palmares
Que invada os lares dos milionários
Como o Movimento Revolucionário Tupac Amaro
Fazendo refém diplomatas do mundo inteiro
Exigindo em troca a liberdade de seus companheiros
Que venha na lembrança atos de rebeldia
Enquanto você dança e ouve a minha poesia
Sobre Les Marrons e a revolta dos escravos
Libertando o Haiti em 1804
Minhas rimas são documentos subversivos
Traduzindo a luta de Banto Steve Biko
A batalha diária do povo palestino
A luta anti-imperialista de Sandino
Que seja o hino da luta anti-capital
Que seja feminino, masculino e plural.

Revolução! Se liga, sangue bom
Com criatividade e indignação
Revolução! Se liga, sangue bom
Vou rimando e com a rima buscando a libertação

domingo, dezembro 18, 2011

Nota de Repúdio da Associação de Geógrafos Brasileiros – AGB, seção São Paulo, à expulsão dos 6 estudantes da Universidade de São Paulo no dia 16 de dezembro de 2011

Nota de Repúdio da Associação de Geógrafos Brasileiros – AGB, seção São Paulo, à expulsão dos 6 estudantes da Universidade de São Paulo no dia 16 de dezembro de 2011

17 de dezembro de 2011

Nós, direção da Associação dos Geógrafos Brasileiros - AGB (seção São Paulo), repudiamos a decisão do reitor João Grandino Rodas e dos dirigentes e conselheiros membros participantes do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo e da Comissão Processante favoráveis à expulsão dos 6 estudantes desta Universidade, decisão publicada no Diário Oficial da União no dia 16 de dezembro de 2011.

Estes estudantes, todos alunos de graduação, de diferentes cursos e Unidades, foram eliminados de todas as suas atividades acadêmicas, não podendo mais reingressar na Universidade de São Paulo de forma nenhuma, seja por seleção de pós-graduação, concurso público ou vestibular. Esses estudantes estavam sofrendo um processo administrativo na Universidade desde 2010, quando ocorreu a ocupação de um andar de um dos blocos do Conjunto Residencial da USP, o CRUSP, em um movimento legítimo de retomada desse prédio para a residência universitária, na época utilizado pela seção administrativa Coseas, que controla e determina todos os recursos, bolsas e projetos de permanência estudantil.

Acreditamos que essas expulsões estão contidas em uma estrutura de poder dentro da Universidade que se constitui de maneira autoritária, em um Conselho Universitário no qual os seus membros não são eleitos de forma direta pelo conjunto da comunidade universitária, em que os representantes discentes e dos funcionários são sempre minoria e voto vencido. É essa estrutura que criou um convênio entre a Universidade e a Policia Militar, permitindo uma ação policial truculenta de desocupação do prédio da reitoria no mês de novembro de 2011, quando a tropa de choque, com cerca de 400 homens, sitiou o CRUSP, com semelhança aos acontecidos na residência universitária em 17 de dezembro de 1968.

Relembramos que hoje completam-se 43 anos da desocupação do mesmo conjunto residencial, ação realizada durante a Ditadura Militar, 4 dias após o AI-5, quando o CRUSP foi invadido pelo exército com tropas e tanques de guerra, e cerca de 800 estudantes moradores foram presos.

Dois estudantes desse grupo de alunos que ontem foram expulsos são geógrafos, e a AGB SP recoloca aqui o repúdio à essa expulsão e o apoio institucional e administrativo à todos os estudantes processados. A AGB SP apóia o movimento pela redemocratização da Universidade, movimento do qual esses estudantes fazem parte

A estupidez. O horror. A barbárie. A guerra


A estupidez. O horror. A barbárie. A

guerra


Enquanto civis inocentes e até crianças são torturadas até a morte e descartadas a sangue frio, o “debate” em muitos meios de comunicação continua sendo se é “correto” divulgar informações sigilosas. Documentário mostra, por exemplo, que The Washington Post sabia das graves violações dos soldados americanos e se omitiu.

Instituto Zequinha Barreto
– Julian, bem vindo. Foi noticiado que o WikiLeaks liberou mais documentos confidenciais do que toda a mídia mundial, junta. Isso não poderia ser verdade.
– Sim, não pode ser verdade. É preocupante, não é mesmo? Que toda a mídia mundial esteja fazendo um trabalho tão ruim. Que um pequeno grupo de ativistas possa ter liberado mais deste tipo de informação do que toda a imprensa mundial.
Trecho do documentário ‘Wikirebels’
A estupidez. O horror. A barbárie. A guerra. A corrupção. Os crimes contra a Humanidade. Aqueles que, neste exato momento, desqualificam o trabalho do WikiLeaks não têm coragem, ou competência, para enxergar os documentos agora expostos. Estão aqui, abaixo. Não continue se não tiver estômago. “Eu comecei a chorar, como fazem todas as pessoas que assistem ao filme”, afirma uma jornalista da Islândia.
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A cena acima não é uma montagem.
Os crimes estão expostos. Americanos que matam sem qualquer motivo. Inocentes. Crianças. Os documentos foram expostos. As cenas gravadas. O crime contra a Humanidade documentado, vazado, exposto. Assista aos documentários abaixo e tire sua própria conclusão.
E o que discutimos? Se é “correto” divulgar. Se Julian Assange é um estuprador ou não. Se ele é uma “ameaça”. Só há duas hipóteses para iniciar o debate nestes termos: ou você é ignorante, ou apoia tais crimes.
Entre outras informações, o WikiLeaks ajudou a divulgar um manual utilizado pelas tropas dos EUA que ensinava como humilhar e torturar seus detentos, de modo que revelassem informações para os americanos.
Revelou ainda, por meio de um relatório confidencial de 2006, que a empresa multinacional Trafigura despejou resíduos tóxicos na Costa do Marfim, causando danos à saúde de dezenas de milhares de pessoas. Assange denunciou ainda, à época, uma mordaça imposta à mídia do Reino Unido.
Outro escândalo revelado foi a corrupção no sistema financeiro da Islândia, em 2008, causando sérios danos à economia do país. Em 9 de outubro de 2008, o Kaupthing Bank HF foi forçado à falência pelo governo – poucos dias após uma crise no Landsbanki ter o levado ao controle do governo. Devido à crise, que afetou todo o sistema financeiro islandês, todas as negociações nos mercados de capital do país foram suspensas em 13 de outubro de 2008.
No dia 29 de julho de 2009, no entanto, o Wikileaks expôs um documento confidencial de 210 páginas revelando que o Kaupthing fez empréstimos entre 45 milhões e 1.250 bilhões de euros. O documento vazado pelo site revelou que o banco havia emprestado bilhões de euros para os seus maiores acionistas, incluindo um total de 1.43 bilhões de libras para uma das maiores empresas do setor financeiro no país, a Exista, e filiais que possuem 23% do banco. Após a revelação, executivos foram presos e a legislação pró-liberdade de imprensa evoluiu, se tornando um exemplo para o mundo.
Um dos mais espantosos vazamentos mostram cenas semelhantes às verificadas nas forças nazistas e fascistas do século XX: soldados norte-americanos matam a sangue frio, a partir de helicópteros, civis inocentes – incluindo dois repórteres da Reuters. “Você de fato vê nos relatos crianças sendo torturadas até a morte. Não é algo que se pode ler sem se afetar pelo que se está lendo”, diz um dos editores dos documentos da guerra do Iraque, em Londres. “A falta de respeito pela vida humana corre normalmente em todo o material”, aponta um documentarista.
Em um trecho, um helicóptero atiraria em um prédio vazio para destruí-lo. Subitamente, um homem se aproxima e passa pela calçada. Os militares americanos poderiam ter esperado. Eles não esperam. Em outro, um homem dentro de um carro é perseguido pelos militares no helicóptero. O homem sai e claramente se rende, de mãos para cima, deitado no chão. Os militares atiram.


sábado, dezembro 17, 2011

Hobsbawm, o profeta de Marx


Hobsbawm, o profeta de Marx


O marxismo é a chave para o entendimento e eventual superação do capitalismo, avalia historiador

17 de dezembro de 2011

Marcos Guterman – O Estado de S.Paulo

Não há nenhum deus além de Karl Marx, e Eric Hobsbawm é seu profeta. Maior historiador marxista ainda em atividade, aos 94 anos, o inglês Hobsbawm dedica sua última obra – Como Mudar o Mundo – Marx e o Marxismo – a mostrar que o filósofo alemão, tido como soterrado pelos escombros do Muro de Berlim, continua a ser a chave para o entendimento do capitalismo e para sua superação, agora em tempos de aquecimento global.
Já em seu livro A Era dos Extremos, Hobsbawm colocou a Revolução Bolchevique como o principal evento do “breve século 20″ – que em sua visão acaba, justamente, na implosão da URSS. “O mundo que se esfacelou no fim da década de 1980 foi o mundo formado pelo impacto da Revolução Russa de 1917″, escreveu ele, para elaborar a teoria segundo a qual todos os processos históricos do período – das alianças diplomáticas aos desdobramentos econômicos globais – tiveram como eixo a instalação do comunismo na Rússia. Trata-se, obviamente, de um exagero. Mas o Marx que Hobsbawm tenta resgatar em seu novo livro não é o de Lenin e de Stalin, nem o dos marxistas contemporâneos, e sim a essência de seu pensamento.
Em Como Mudar o Mundo, reedição de textos escritos entre 1956 e 2009, Hobsbawm trata de diferenciar Marx do marxismo e de sua aplicação extrema, o comunismo – o que é conveniente, ao se observar as atrocidades cometidas em nome da igualdade. Para ele, dizer que o marxismo é responsável por essas tragédias “é o mesmo que afirmar que o cristianismo levou ao absolutismo papal”.
Hobsbawm se localiza entre aqueles que veem Marx como um mapa do caminho para a revolução e os que o encaram simplesmente como teoria. Mostra a ruptura dele com os socialistas utópicos, mas deixa claro o tributo que Marx lhes paga na forma da ideia de que é “inevitável” mudança não apenas de regime de governo, mas de todo o modo de vida sobre a Terra. Nos últimos 130 anos, diz o historiador, Marx foi o tema central da paisagem intelectual e, graças à sua capacidade de mobilizar forças sociais, foi uma presença crucial na história. No entanto, o desgaste provocado pelo colapso da URSS expôs, nas palavras de Hobsbawm, o “fracasso das predições” das teorias marxistas.
De tempos em tempos, anuncia-se que o capitalismo está no fim. Como a história mostra, porém, o moribundo arruma um jeito de se recuperar, entre outras razões porque a classe trabalhadora, que seria o esteio da revolução, sofreu mudanças dramáticas no último meio século, ao ponto de se tornar irreconhecível como “proletariado”. Mas Hobsbawm, em meio à crise global deflagrada em 2008, não resistiu à tentação e escreveu que, desta vez, vai: “Não podemos prever as soluções dos problemas com que se defronta o mundo no século 21, mas quem quiser solucioná-los deverá fazer as perguntas de Marx, mesmo que não queira aceitar as respostas dadas por seus vários discípulos”. Para ele, o futuro do marxismo e da humanidade estão intimamente vinculados.
No entanto, convém relevar o entusiasmo de Hobsbawm. A história mostra que é prudente ler Marx mais como uma forma de entender o mundo do que de mudá-lo.

segunda-feira, novembro 21, 2011

Movimentos sociais, movimento estudantil e prática militante

E, se as formas de organização criadas para isto estão funcionado de maneira insatisfatória, o problema está em ativá-las ou em mudá-las, conferindo-lhes a eficácia que deveriam ter." Leandro Konder



Não creio que vivemos numa "falência", mas sim vivemos numa crise organizacional onde as demandas impostas pela contradição e dinâmica capitalista e a própria reestruturação produtiva e acumulação flexível mudou o cenário da organização social, principalmente a sindical e isso impactou nos movimentos sociais, culminando no que hoje algumas teses defendem como crise organizacional dos movimentos sociais, ou seja, um problema de conjuntura e co-relação de forças que não está nada favorável a classe trabalhadora. 

Primeiro, o que é movimento social? o movimento social é expressão das relações sociais objetivas e subjetivas, determinadas pelas relações entre estrutura e superestrutura no movimento real da totalidade concreta de um determinado período histórico e suas manifestações são estruturais e conjunturais.

A culpa não é do "vilão" capitalismo, mas sim de todas as suas expressões, contradições, complexos dos complexos, já disse Luckás. Não sei que "maquiavelismo" ou "teoria do caos" ou sei lá o que é esse bla bla bla de tática de movimentos sociais, Argumento sem nenhum embasamento, se trata apenas de um julgamento moral a meu ver.

Infelizmente, camaradas, as contradições se dão nos aspectos micro, e macros da dinâmica sociais, e DA's, movimento estudantil são profundamente afetados pelo descenso e refluxo da luta de classes, e infelizmente alguns companheiros só criticam e não movem se quer uma palha para mudar algo. Isso sim é triste.

Obviamente devemos caminhar para uma dita "perfeição" na nossa prática militante, mas com a realidade adversa que vivemos, não é fácil. A construção de valores no movimento estudantil, valores humanos, emancipatórios e autonomos são bastantes complicados, pelo próprio perfil que é a academia e seu distanciamento da classe trabalhadora, então não somos uma bolha da perfeição que não é atingindo pela complexidade que é a dinâmica social, e não podemos reduzir isso a um discurso idealista e romântico.

Obviamente o conceito de representatividade é pequeno-burgues, por que a "representação" exclui, direta ou indireta, a participação de outro ser na política. Mas não podemos utilizar a culpabilização de sujeitos na análise, pois assim chegamos até a um retrocesso de análise, eram os positivistas que faziam isso, não? A participação e a militância no movimento estudantil tem importância fundamental para a formação político-ideológica.


Participar do movimento estudantil implica assumir uma certa autonomia, a tomar posição crítica com relação à instituição escolar e seus muitos mecanismos. A primeira fronteira se rompe, portanto, é a da própria sala de aula [...]. E as fronteiras físicas da universidade em que estudamos também se rompem [...]. E as fronteiras que se acabam por romper são também ideológicas – rompem-se cerca de muitos preconceitos pequeno-burgueses – aprende-se assim, já em princípio, que as saídas individuais não são saídas, mas adequações e que elas, em definitivo, não resolvem nem os problemas individuais mais imediatos, dirá os problemas históricos e sociais mais graves. Por isso, rompe-se a fronteira do imediato (ARAÚJO e SOUSA NETO, 2007, p. 258)


Camaradas, de certo a eleição de uma chapa ou outra para DA não é a tão democracia e emancipação política que queremos, que está no nosso HORIZONTE UTÓPICO. devemos COLETIVAMENTE buscar alternativas de abrir a gestão dos DA e CA's, é uma tarefa fácil? Não, não o é. Mas ai vamos juntas e juntos buscar as soluções para os nossos "problemas."

A realidade do curso de Serviço Social da UFPE é uma realidade para muitas universidades públicas, infelizmente a mudança socio-econômica não anda na mesma velocidade da mudança juridica-politica. Mas devemos entender as universidades, instituições, governos, estados e afins como detentoras de relações AMPLIADAS, complexas, e contraditórias, Mais uma vez aqui o dito complexos dos complexos, unidade dos contrários. Isso só uma negação da negação para "resolver". (ignorem o etapismo)


A tal UNE, (UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES), entidade histórica e legitima criada a partir da necessidade de organizar as lutas estudantis infelizmente vive um MOMENTO DE CONJUNTURA E CO-RELAÇÃO DE FORÇAS QUE NÃO É AO "NOSSO" FAVOR. Como assim o foi em outros momentos históricos e que a partir da disputa e luta conseguimos reaver, mas que depois também foi tomada por um grupo que hoje vai numa perspectiva ala direita. é um braço do governo? É, em sua maioria. devemos reconquista a UNE, disputá-la, no debate, na conversa, nas propostas, é bem dificil fazer isso tendo em vista os valores capitalistas e pequeno-burgueses empregados pela maioria, como dinheiro, sexo, comida e bebida, e algumas drogas... mas camarada, é uma tarefa para tod@s os estudantes. Pois criar outra entidade ou aboli-las de vez com certeza não solucionará todos os empasses, desafios e dilemas que enfrenta o movimento estudantil de esquerda na atualidade. Não nesse dado momento histórico.

Infelizmente é isso, eles CONSEGUEM DIALOGAR COM A POPULAÇÃO, coisa que a extrema esquerda ou seja lá o que for não consegue fazer. É um desafio que está posto camarada, cabe-nos fazer ALGUMA COISA.

Não se trata de legitimar ou não a entidade camaradas, vejo que o buraco é mais em "cima".  Mas é entender que o problema não é unica e exclusivamente da gestão. Não podemos cair nesse discurso de bom e mau, vilão e herói. A situação é mais complexa do que parece, até onde sei, na UFPE, os estudantes de Serviço Social deram e dão enormes contribuição para o ME, o MESS e a ENESSO, pelo menos uma parte que se dispões dias e dias da sua vida a construir uma categoria forte e um projeto ético político que vise a emancipação, a liberdade, a democracia. Eu sei que existem dois grupos disputando a gestão do DASS, um deles até exageram na critica a UNE, outros entendem a UNE em sua totalidade. 

Como você disse o problema não é de direção, é de conjuntura e co-relação de forças, mas a gestão pode fazer sim uma pequena diferença. Tendo em vista todo o histórico e legitimidade da UNE, Que queiramos ou não, tem respaldo nessa torcida organizada que é a UJS, nas escolas particulares e nos reunistas e prounistas. E eles são também trabalhadores, como eu, você e outros companheiros.

Infelizmente o movimento estudantil tem essas práticas de coleguismo, capismo, e afins, por ter suas particulares estruturais, por ser um movimento ciclico que pouco consegue dar continuidade e coesão. Por ser sim HETEROGENEO , CICLICO E POLICLASSISTAS. Mas são desafios que estão postos para toda a militancia. Cabe-nos combater essas práticas.

O problema é, na minha opinião, julgar alguém de pseudo-revolucionário ou não... cara, a prática nos dirá. Não podemos idealizar um tipo X de militancia. devemos caminhar para tal militancia, que dificilmente se dará sem um processo revolucionário.

O movimento estudantil deve ser autonomo, sim o deve. mas não podemos descartar que as bandeiras a ser defendidas pelo ME as vezes se entrelaçam com bandeiras de partidos, principalmente o MESS por sua maturidade política de sua luta associada a um projeto de sociedade... No mais peço que os compas que respondam tal acusação.

Eu construo o MPL, mas até que ponto existe auto-gestão? Vamos juntos buscar as respostas. Mas, cammarada, não se pode comparar o "incomparavel".

O papel de uma organização na história é interpretar os desafios que as circustancias apresentam e tentar resolvê-los, criando novas circustancias. Vivemos, infelizmente, num tempo de vazio de alternativas, de ideias e iniciativas, que leva cada vez mais a sociedade a bárbarie. No mais temos que nos concentrar nesse momento adverso num processo simples e complexo ao mesmo tempo, o processo de crítica e auto-crítica , de maneira fraterna e construtiva. Não nascemos militantes, nos fazemos militantes e poderemos deixar de ser no momento em que deixarmos de transformar a nós mesmos e a nossa volta (dentro de como podemos) no fazer cotidiano.

Precismaos combater a espontaneidade, elevar o nivel de consciencia da classe trabalhadora e ir além da "luta imediata". 

O indivíduo isolado, normalmente, não pode faze história: suas forças são muito limitadas. Por isso, o problemas da organização capaz de levá-lo a multiplicar suas energias e ganhar eficácia é um problema crucial para todo revolucionário. É preciso que a organização não se torne opaca para o indivíduo, que ele não se sinta perdido dentro dela; é preciso que ela não o reduza a uma situação de impotência contemplativa ou a um ativismo cego. Se não, o indivíduo fica impossibilitado de atuar revolucionariamente e se sente alienado na atividade coletiva.


Shellen Galdino, em resposta a um email meio anarco na lista da enesso regional. =) me inspirei ó 

HAHAHAHAHAHA

=)




email: PARA QUE VOTAR NAS ELEIÇÕES DO DASS?



Vemos hoje uma falência nas táticas de luta nos movimentos populares, seja no meio estudantil, sindical, etc. Mas será que essas não aglutinação, apatia, se deve apenas por causa do sistema capitalista que fomenta isso a todos instantes ? Será que isso também não é uma tática de vários movimentos que visam dirigir as massas e colocam aqueles que deviam lutar ombro a ombro como incapazes de fazer a politica que regerá suas vidas.
Mais triste é vemos tais processos se repetirem em em pequenos espaços onde deveriam ser o lugar onde se mostraria que é perfeitamente possível fazermos uma politica de outra forma da qual cotidianamente vemos, uma politica totalmente coerente com o que queremos, baseada nas mais fortes bases que podem haver, a solidariedade, o apoio mutuo, a democracia direta, a ação direta.
Espaços como um D.A deve servir para todos estudantes e não somente para um grupo eleito pela ditadura da maioria, isso não é democracia, democracia se faz diretamente, esse conceito de representatividade é um conceito burgues deturpado do que realmente significa democracia.

O pior é ainda nos encontramos em tal situação como vive o curso de Serviço Social da UFPE, ainda vivendo sob a legitimidade a uma entidade totalmente aparelhada, governista, que usa do aparato policial pra fazer o papel que o estado hoje a demanda-a. 
A tal UNE ( união neoliberal dos estudantes ) que vive sob o comando do mesmo grupo desde sua volta em 1979, ainda na ditadura, é hoje o maior braço dos parlamentares no governo, em nosso caso, municipal, estadual e federal, para implementação de suas politicas, pois se um dia ele foi de luta hoje luta contra os estudantes, onde podemos lembrar as maiores pautas que nos apareceram nos últimos anos como o REUNI e aumento de passagens em varias cidades. No primeiro caso a UNE se colocou junto a policia na desocupação da USP, para citar o maior caso, onde houve confrontos com outros estudantes alí ocupados e no caso da UFPE, fez passeatas contra a ocupação da reitoria e chamou os ocupantes de burgueses que não queria que abrissem vagas paras os pobres, escondendo totalmente o que verdadeiramente é o REUNI.
No segundo caso podemos citar o nosso aqui em Pernambuco, onde em 2005 os estudantes da UNE trabalharam junto a policia indicando aqueles que não agiam ordeiramente, “os baderneiros” , dando um simples OK e falando, esse pode levar, e vários estudantes detidos foram levados pra quarteis e pra matas do exercito, como a perto do shopping Tacaruna, e lá torturados.

Não sitamos aqui que os estudantes presentes na/s chapa/s legitimem diretamente tais atos, mas ao legitimar tal entidade legitima-se suas ações. Não devemos também cair mais uma vez no simples discurso que isso é um problema de direção, pois não o é, deixemos tal discurso para os que se colocam como “esquerda da UNE” , que na verdade tem nomes claros para quem ainda se coloca dentro de uma entidade que dizem ter divergências, oportunismo, peleguismo.




Tais grupos por muitas vezes se colocam como diferentes, que não é a mesma politica vista lá fora dos muros da universidade, ou de um simples centro, se aproveitando por serem pessoas que sempre a vemos nos nossos corredores, que é da mesma sala que nós, etc. Ou seja o discurso do coleguismo, o que faz que muitos votem em tais. O coleguismo é apenas uma trava para o pensamento critico do processo posto e assim ficamos apenas com nossos coleguinhas de curso e seus cartazes, assimilando no máximo seus dizeres, que por vezes são belos, que falam de liberdade, sociedade emancipada, autonomia, ora, isso não passa de palavreados pseudo revolucionários. Para isso avaliemos tais palavras,brevemente.
Como falar de autonomia um grupo que se coloca dentro da UNE, dentro de UM coletivo que também a legitima, o quebrando pedras e plantando flores, nome dado também a ultima gestão, onde vemos já pela sua carta de princípios demandas de um partido, será que foi coincidência ? o mesmo partido que participou das 2 semanas dos movimentos sociais feita por esse grupo, participou do coress, falamos aqui do PCB, será tudo coincidência ?
Autonomia implica diretamente em um não aparelhamento e será que isso não acontece ?
Como assim falarmos de uma sociedade emancipada, se nos mínimos espaços não rumamos para isso ? Uma outra politica que nos levará a outro mundo só será uma politica que seja totalmente coerente com os fins que dizemos tanto querer. Uma sociedade sem classes, só virá se agirmos ombro a ombro com todos que verdadeiramente a deseja, levando nossas lutas pelos caminhos da ação direta, da autogestão, da não burocratização de nossos espaços, isso é o que devemos pautar em todos os campos que vivemos.
Um D.A só será de todos estudantes de fato, se todos poderem dele participar como qualquer outro, isso implica em outra forma de luta, na não legitimação de espaços como o de uma eleição, que não passa de uma falsa legitimação para um grupo.
Não cairemos também no discurso de que o D.A é aberto, venha construir conosco, isso é um discurso que só pode fortalecer a situação, Querer que você trabalhe para outros levarem a fama.
Mais que tudo passamos por um problema Estrutural, não é apenas mudando o grupo na gestão do D.A ou apenas o nome que iremos nos movimentar para algo novo. 
Busquemos pelo novo, já temos pelo Brasil vários diretórios autogeridos onde a abertura já fez trazer vários estudantes para os quadros de uma luta mais legitima. Não vamos cair no discurso daqueles que temem a liberdade, que dizem que autogestão não funciona, olhemos o caso do do diretório de ciências sociais da UFPE, onde agora temos institucionalmente uma autogestão e vemos um grupo que vem puxando vários debates e ações como o caso do professor que assediou uma estudante, copa do mundo, apoio a USP, universidade democrática...
Olhemos para movimentos como o MPL, Movimento pelo passe-livre, movimento autogerido, federalizado, que age pela ação direta, mostrando que tais táticas caminham para o viés de algo mais justo que essa politica, e assim, vemos que isso é perfeitamente possível.

A politica só pode ser feita se for por nossas mãos. 
Ninguém estuda por você
Ninguém Faz politica por você.




O escravo moderno está convencido de que não existe alternativa na organização do mundo atual. Ele se resignou a esta vida porque pensa que não pode haver outra. E é ai mesmo que se encontra a força da dominação presente: entreter a ilusão desse sistema que colonizou toda a face da Terra é o fim da história. Convenceu a classe dominada que adaptar-se a sua ideologia é como adaptar-se ao mundo tal qual se mostra e como sempre foi. Sonhar com outro mundo se tornou um crime criticado unanimemente pelos meios de comunicação e os poderes públicos. O criminoso é na realidade aquele que contribui, consciente ou não, na demência da organização social dominante. Não existe loucura maior que a do sistema atual.

segunda-feira, novembro 14, 2011

O evangelho de Google


O evangelho de Google




Deus existe, chama-se Google, e alguns de nós consultam-no e fazem-lhe pedidos todos os dias.
A tese da divindade do santuário de busca mais freqüentado da terra, pregada ardentemente pelo tecno-profeta Matt MacPherson, ainda não foi, que eu saiba, refutada a contento.
Uma página apologética do sáite A Igreja de Google argumenta sensatamente que “existe mais evidência em favor da existência de Google do que de qualquer outro deus adorado nos nossos dias”.
Se você se preocupa com esse tipo de coisa, o Google encaixa-se confortavelmente dentro de alguns dos mais exigentes atributos que a teologia ortodoxa estabeleceu para Deus: ele é onisciente (sabe tudo que há para se saber – basta perguntar), onipresente (esta em e é acessível de todos os lugares, ainda mais com acesso wireless), imortal (suas informações e algoritmos estão distribuídos entre vários servidores, de modo que não há como se apagardefinitivamente uma porção do Google), registra todos os nossos erros e preferências e tem vocação para infinito.
Para o adorador casual, mais importante pode ser saber que o Google responde consistentemente as orações que se lhe fazem, e de forma mais rápida, organizada, relevante e abrangente do que qualquer deus competidor. As orações ao Google, que na tecno-ortodoxia chamam-se buscas, têm um potencial de resposta avassalador. Se você quer permanecer ignorante a respeito de determinada coisa, é melhor não consultar o oráculo do Google – o deus cego e generoso que tudo vê, tudo sabe e nada vai negar.
O REINO DE GOOGLE ESTÁ PRÓXIMO.

O Google pode ajudá-lo a organizar-se e manter-se informado, pode fornecer informações sobre como salvar uma vida ou tirá-la, pode oferecer uma cópia de segurança para os seus arquivos quando seu computador fritar, pode ajudá-lo a encontrar amigos há muito perdidos, a encontrar o caminho mais rápido e eficiente para determinado lugar ou a ver a Terra de cima.
Seu poder e sua sabedoria não páram de crescer, sua graça é abundante sobre justos e injustos, suas atualizações renovam-se a cada manhã.
O que me traz invariavelmente à lembrança o curtíssimo conto de ficção científica de Fredric Brown, “Answer”, de 1954. Num futuro distante autoridades estelares ligam pela primeira vez o interruptor que conecta os supercomputadores de noventa e seis bilhões de planetas “numa máquina cibernética que combina todo o conhecimento de todas as galáxias”.
– A honra de fazer a primeira pergunta é sua, Dwar Reyn.
Ele vira-se para olhar a máquina de frente.
– Deus existe?
A voz poderosa responde sem hesitação, sem o clique de um único relé.
– Agora existe.
Na história eles até tentam desligar o interruptor, mas é tarde demais. O reino de Google está próximo.
http://www.baciadasalmas.com/2006/o-evangelho-de-google/

domingo, novembro 06, 2011

Viver entre os 1%


11/2011 - 17h21 | Michael Moore | Nova York

Viver entre os 1%

 
 

Amigos,
 
Há 22 anos, que se completam nesta terça-feira, estava com um grupo de operários, estudantes e desempregados no centro da cidade onde nasci, Flint, Michigan, para anunciar que o estúdio Warner Bros, de Hollywood, comprara os direitos de distribuição do meu primeiro filme, “Roger & Me”. Um jornalista perguntou: “Por quanto vendeu?”
 
“Três milhões de dólares” – respondi com orgulho. Houve um grito de admiração, do pessoal dos sindicatos que me cercava. Nunca acontecera, nunca, que alguém da classe trabalhadora de Flint (ou de lugar algum) tivesse recebido tanto dinheiro, a menos que um dos nossos roubasse um banco ou, por sorte, ganhasse o grande prêmio da loteria de Michigan. 
 
Naquele dia ensolarado de novembro de 1989, foi como se eu tivesse ganho o grande prêmio da loteria – e o pessoal com quem eu vivia e lutava em Michigan ficou eufórico com o meu sucesso. Foi como se um de nós, finalmente, tivesse conseguido, tivesse chegado lá, como se a sorte finalmente nos tivesse sorrido. O dia acabou em festa. Quando se é trabalhador, de família de trabalhadores, todos cuidam de todos, e quando um se dá bem, ou outros vibram de orgulho – não só pelo que conseguiu ter sucesso, mas porque, de algum modo, um de nós venceu, derrotou o sistema brutal contra todos, sem mercê, que comanda um jogo cujas regras são distorcidas contra nós.
 
Nós conhecíamos as regras, e as regras diziam que nós, ratos das fábricas da cidade, nunca conseguíamos fazer cinema, ou aparecer em entrevistas na televisão ou conseguíamos fazer-nos ouvir em palanque nacional. A nossa parte deveria ser ficar de bico calado, cabeça baixa, e voltar ao trabalho. E, como que por milagre, um de nós escapara dali, estava a ser ouvido e visto por milhões de pessoas e estava ‘cheio de massa’ – santa mãe de deus, preparem-se! Um palanque e muito dinheiro... agora, sim, é que os de cima vão ver!
 
Naquele momento, eu sobrevivia com o subsídio de desemprego, 98 dólares por semana. Saúde pública. O meu carro morrera em abril: sete meses sem carro. Os amigos convidavam-me para jantar e sempre pagavam a conta antes que chegasse à mesa, para me poupar ao vexame de não poder dividi-la.
 
E então, de repente, lá estava eu montado em três milhões de dólares. O que eu faria do dinheiro? Muitos rapazes de terno e gravata apareceram com montes de sugestões, e logo vi que, quem não tivesse forte sentido de responsabilidade social, seria facilmente arrastado pela via do “eu-eu” e muito rapidamente esqueceria a via do “nós-nós”.
 
Em 1989, então, tomei decisões fáceis:
 
1. Primeiro de tudo, pagar todos os meus impostos. Disse ao sujeito que fez a declaração de rendimentos, que não declarasse nenhuma dedução além da hipoteca; e que pagasse todos os impostos federais, estaduais e municipais. Com muita honra, paguei quase um milhão de dólares pelo privilégio de ser norte-americano, cidadão deste grande país.
 
2. Os 2 milhões que sobraram, decidi dividir pelo padrão que, uma vez, o cantor e activista Harry Chapin me ensinou, sobre como ele próprio vivia: “Um para mim, um para o companheiro”. Então, peguei metade do dinheiro – e criei uma fundação para distribuir o dinheiro.
 
3. O milhão que sobrou, foi usado assim: paguei todas as minhas dívidas, algumas que eu devia aos meus melhores amigos e vários parentes; comprei um frigorífico para os meus pais; criei fundos para pagar a universidade das sobrinhas e sobrinhos; ajudei a reconstruir uma igreja de negros destruída num incêndio, lá em Flint; distribuí mil perus no Dia de Ação de Graças; comprei equipamento de filmagem e mandei para o Vietnã (a minha ação pessoal, para reparar parte do mal que fizemos àquele país, que nós destruímos); compro, todos os anos, 10 mil brinquedos, que dou a Toys for Tots no Natal; e comprei para mim uma moto Honda, fabricada nos EUA, e um apartamento hipotecado, em Nova York.
 
4. O que sobrou, depositei numa conta de poupança simples, que paga juros baixos. Tomei a decisão de jamais comprar ações. Nunca entendi o cassino chamado Bolsa de Valores de Nova York, nem acredito em investir num sistema com o qual não concordo.
 
5. Sempre entendi que o conceito do dinheiro que gera dinheiro criara uma classe de gente gananciosa, preguiçosa, que nada produz além de miséria e medo para os pobres. Eles inventaram meios de comprar empresas menores, para imediatamente as fechar. Inventaram esquemas para jogar com as poupanças e reformas dos pobres, como se o dinheiro dos outros fosse dinheiro deles. Exigiram que as empresas sempre registassem lucros (o que as empresas só conseguiram porque despediram milhares de trabalhadores e acabaram com os serviços de saúde pública para os que ainda tinham empregos). Decidi que, se ia afinal ‘ganhar a vida’, teria de ganhá-la com o meu trabalho, o meu suor, as minhas ideias, a minha criatividade. Eu produziria produtos tangíveis, algo que pudesse ser partilhado com todos ou de que todos gostassem, como entretenimento, ou do qual pudessem aprender alguma coisa. O meu trabalho, sim, criaria empregos, bons empregos, com salários decentes e todos os benefícios de assistência médica.
 
Continuei a fazer filmes, a produzir séries de televisão e a escrever livros. Nunca iniciei um projecto pensando “quanto dinheiro posso ganhar com isso?”. Nunca deixei que o dinheiro fosse a força que me fizesse fazer qualquer coisa. Fiz, simplesmente, exatamente o que queria fazer. Essa atitude ajuda a manter honesto o meu trabalho – e, acho, ao mesmo tempo, que resultou em milhões de pessoas que compram bilhetes para assistir aos meus filmes, assistem aos programas que produzo e compram os meus livros.
 
E isso, precisamente, enlouqueceu a direita. Como é possível que alguém da esquerda tenha tanta audiência no ‘grande público’?! Não pode ser! Não era para acontecer (Noam Chomsky, infelizmente, não vai aparecer no Today View de hoje; e Howard Zinn, espantosamente, só chegou à lista dos mais vendidos do New York Times depois de morto). Assim opera a máquina dos meios de comunicação. Está regulada para que ninguém jamais ouça falar dos que, se pudessem, mudariam todo o sistema, para coisa muito melhor. Só liberais sem personalidade, que vivem de exigir cautela e concessões e reformas lentas, aparecem com os nomes impressos nas páginas de editoriais dos jornais ou nos programas da televisão aos domingos.
 
Eu, de algum modo, encontrei uma brecha na muralha e meti-me por ali. Sinto-me abençoado, podendo viver como vivo – e não ajo como se tudo fosse garantido para sempre. Acredito nas lições que aprendi numa escola católica: que se tens sucesso, maior é a tua responsabilidade por quem não tenha a mesma sorte. “Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos.” Meio comunista, eu sei, mas a ideia é que a família humana existe para partilhar com justiça as riquezas da terra, para que os filhos de Deus passem por esta vida com menos sofrimento.
 
Dei-me bem – para autor de documentários, dei-me super bem. Isso, também, faz enlouquecer os conservadores. “Você está rico por causa do capitalismo!” – gritam. Hummm... Não. Não assistiram às aulas de Economia I? O capitalismo é um sistema, um esquema ‘pirâmide’ que explora a vasta maioria, para que uns poucos, no topo, enriqueçam cada vez mais. Ganhei o meu dinheiro à moda antiga, honestamente, fabricando produtos, coisas. Nuns anos, ganho uma montanha de dinheiro, noutros anos, como o ano passado, não tenho trabalho (nada de filme, nada de livro); então, ganho muito menos. “Como é que você diz que defende os pobres, se você é rico, exatamente o contrário de ser pobre?!” É o mesmo argumento de quem diz que, “Você nunca fez sexo com outro homem! Como pode ser a favor do casamento entre dois homens?!"
 
Penso como pensava aquele Congresso só de homens que votou a favor do voto para as mulheres, ou como os muitos brancos que foram às ruas, marchar com Martin Luther Ling, Jr. (E lá vem a direita, aos gritos, ao longo da história: “Hei! Você não é negro! Você nem foi linchado! Por que está a favor dos negros?!”). Essa desconexão impede que os Republicanos entendam por que alguém dá o próprio tempo ou o próprio dinheiro para ajudar quem tenha menos sorte. É coisa que o cérebro da direita não consegue processar. “Kanye West ganha milhões! O que está a fazer lá, em Occupy Wall Street?!”. Exatamente – lá está, exigindo que aumentem os impostos a ele mesmo. Isso, para a direita, é definição de loucura. Todo o resto do mundo somos muito gratos que gente como ele se tenha levantado, ainda que – e sobretudo porque – é gente que se levantou contra os seus interesses pessoais financeiros. É precisamente a atitude que a Bíblia, que aqueles conservadores tanto exaltam por aí, exige de todos os ricos.
 
Naquele dia distante, em novembro de 1989, quando vendi o meu primeiro filme, um grande amigo meu disse o seguinte: “Eles cometeram um erro muito grave, ao entregar tanto dinheiro a um sujeito como tu. Essa massa fará de ti um homem perigosíssimo. É prova do acerto do velho dito popular: ‘Capitalista é o sujeito que te vende a corda para enforcar a ele mesmo, se achar que, na venda, pode ganhar algum dinheiro.”