sexta-feira, outubro 15, 2010

Análise crítica de quatro documentários juntamente com o contexto do texto: Capitalismo, liberalismo e origens da política social.



UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Curso: Serviço Social
Disciplina: Questão Social
Professora: Luziana Ramalho
Período: 2010.2
Alunos:
Aline Cristina Lucena dos Santos
Avany Galdino da Silva  
Marcus Vinicius Leite do Vale
Nadja Rayssa Soares de Almeida      
Shellen Batista Galdino     






2ª Avaliação - Questão Social.
Análise crítica de quatro documentários juntamente com o contexto do texto: Capitalismo, liberalismo e origens da política social.











João Pessoa
OUTUBRO/2010

Vídeos anAlisados: 


e África.
APRESENTAÇÃO
O presente trabalho é uma proposta da disciplina intitulada Questão Social, ministrada pela Professora Luziana Ramalho. A atividade consiste na elaboração de um texto dissertativo no qual o grupo deve abordar a problemática assistida nos documentários com base no texto: “Capitalismo, liberalismo e origens da política social”, de Behring e Boschetti (2008). Para que a realização desta atividade assistimos quatro documentários em sala de aula (o que consiste na primeira fase desta avaliação) e também em aulas anteriores a professora proporcionou a discussão do principal texto que complementará esta abordagem crítica.

ANÁLISE

Numa primeira impressão, os vídeos assistidos, aparentemente têm uma temática distinta, cada um abordando algo de sua especificidade, o que na realidade não passa de um equívoco, pois ao analisarmos minuciosamente, descobrimos que os quatro vídeos norteiam questões idênticas, como por exemplo, o que denominamos de: sociedade do consumo. Este tema aparece em todos os documentários, uns de forma explícita e outros de forma implícita. E é a respeito desta temática, e fazendo ponte com o texto base, que trabalharemos a análise dos documentários na seguinte ordem estrutural: abordaremos primeiramente o vídeo nº 3, A vida não Vive, pois pudemos perceber que a abordagem central deste, é o trabalho, e como queremos abordar a sociedade do consumo, não podemos negligenciar que enquanto uns usufruem dos bens produzidos, há outro contingente que nem sempre pode consumir o que produz. Nesta seqüência trabalharemos o vídeo nº 1, A alma do negócio, pois aqui poderemos abordar o consumo deliberado e a forma como somos levados a exacerbar a função de um dado produto. Seguindo o raciocínio conjuntural, percebemos que na medida em que existem os consumidores e os produtores, há uma quantidade de pessoas que não compõem nenhum nem outro grupo, são os marginalizados, por isso em seguida abordaremos o vídeo nº 2, A margem da imagem, e finalizaremos com a grande contradição do capitalismo, no vídeo nº 4 (África), que na medida em que produz riqueza, produz pobreza.
De acordo com Lessa (2006), o trabalho consiste na ação do homem em transformar a natureza com o intuito de atender a uma dada necessidade imediata, para tanto esta ação parte de uma idéia (prévia ideação), e após ser executada, (com o objeto pronto) o homem ao ter feito esta atividade adquiriu conhecimento, que o influenciará na próxima idéia e conseqüentemente no próximo trabalho a ser realizado. Isto é um ciclo, e estamos abordando esta idéia de Sergio Lessa, porque de acordo com o vídeo, A vida na vive, percebemos que este ciclo acontece em inúmeras rotações, pois o homem está sempre transformando a natureza e transformando a si próprio. No entanto não é apenas isso que acontece, o homem não transforma a natureza no intuito de satisfazer uma necessidade imediata, não se trata aqui de uma comuna primitiva como já vimos com Netto (2009), estamos falando sobre o consumo exagerado que o homem faz com os recursos naturais e com o próprio ser humano, explorando cada vez mais a força de trabalho, visto que as relações sociais passam a ser relações entre mercadorias, em uma sociedade onde o individualismo só tende a crescer.
Historicamente, não queremos aqui concordar que a essência do homem é má, desde que a produção de bens, passou de valor de uso para valor de troca e com isso houve a possibilidade de acumulação, a sociedade divide-se entre: os que produzem e os que consomem, e ainda há aqueles que não podem consumir por não possuirem meios para se enquadrar na lógica do consumismo. A desmedida exploração da força de trabalho já passou por vários modos de produção, desde o que defendia a escravidão ao que preferisse a “servidão da liberdade sem proteção” (Behring; Boschetti, 2008, p.51)
 Trazendo para o nosso momento conjuntural, o modo de produção capitalista, vimos através do vídeo, que a produção de bens de consumo é o eixo central da vida humana, “não trabalhamos para viver, mas vivemos para trabalhar”, o homem está preso a esta lógica. Tudo trabalha para a manutenção desta idéia, até a natureza que sem a interferência do homem, já produzia os frutos, o mel, a seda, os ovos e outros derivados animais, hoje, há a manipulação desta produção a serviço da humanidade. A exploração do homem vem se acentuando cada vez mais, e as conquistas que os trabalhadores obtiveram através das lutas de classe, em pouco mudam esta realidade de exploração, por exemplo: a diminuição da jornada de trabalho para 8 horas, fez com que surgissem paralelamente a isso, formas de produzir mais em menos tempo, e com a tecnologia, é perfeitamente possível até a inversão de valores, visto que antes a máquina trabalhava para o homem e hoje é o homem quem trabalha para a máquina.
A inversão de valores não está somente na lógica da produção, mas também na do consumo. Karl Marx, em sua análise do capitalismo, descreve o fetichismo das mercadorias como a tendência de tratá-las como fetiches, ou seja, objetos dotados de propriedades mágicas que lhes conferem uma vida própria. Agimos, por exemplo, como se bens e serviços tivessem um valor natural em comparação com outros no mercado; como se dinheiro, ouro e outros bens fossem “preciosos” por sua própria natureza; como se as mercadorias pudessem se atrair entre si. O problema com esse tipo de pensamento, é que ele tende a obscurecer os relacionamentos sociais entre as pessoas, que constituem a origem real daquilo que atribuímos às mercadorias. As pessoas não sabem mais distinguir se compram uma calça do número que precisam ou se emagrecem para que possam caber na calça que desejam, “por via de conseqüência, os homens não são valorizados (e nem se valoram a si mesmos) pelo que são, mas sim pelo que têm – nessas sociedades, o ter subordina o ser.” (Netto, 2009, p. 93)
A supervalorização da mercadoria é algo fortemente presente no vídeo “A alma do negócio”, visto que o ato de consumir está acima de tudo e de todos. Este poder de possuir um determinado produto e uma dada marca (que muitas vezes se sobressai à própria utilidade do produto) é algo que garante sucesso nas relações sociais (defende o vídeo). O vídeo fala de um perfeito casal-propaganda que leva uma vida feliz e tranqüila até descobrir o que seus maravilhosos produtos podem fazer muito mais do que prometem. A família é alvo deste vídeo, trata-se da plena felicidade que apenas existe devido o “marido e a mulher” utilizarem os melhores produtos para determinadas funções e terem o prazer de poder ter escolhido dentre as mais variadas cores ofertadas. Conhecemos uma frase que diz que a arte imita a vida. A alma do negócio nos revela que a relação entre o casal, aparece como relações entre coisas, mostrando que o consumo encerra muitas vezes conseqüências que nada têm a ver com os usos para o qual um determinado artigo foi produzido. Logo, as qualidades que eram das relações sociais são passadas às mercadorias, e é no capitalismo que o fetichismo alcança o seu maior poder.
Destarte, da mesma forma que existem os consumidores, existem também aqueles que não têm favorecido ao sistema capitalista, os que não possuem renda para consumir e por isso mesmo ficam a margem da sociedade, sociedade esta que está fundada na idéia do individualismo, do neoliberalismo. É importante salientar que a ideologia liberal prega que cada indivíduo agindo em seu próprio interesse econômico, quando atuando junto à coletividade, maximizaria o bem estar coletivo. Suas características são o princípio do trabalho como mercadoria e sua regulação pelo livre mercado. O predomínio do individualismo, o bem estar individual, a maximização do bem estar coletivo, o predomínio da liberdade e competitividade, a naturalização da miséria, o predomínio da lei da necessidade, a manutenção de Estado mínimo, as políticas sociais estimulando o ócio e desperdício e a política social como um paliativo, são os pontos fundamentais para o liberalismo.
 O curta metragem, A margem da imagem, é o perfeito resultado do que acontece com as pessoas que não embarcam na lógica do modo de produção capitalista no mercado neoliberal, o curta mostra as expressões da questão social, na qual as pessoas que não se enquadram na sociedade de consumo, ou não tem como se prover por várias questões, são excluídas socialmente. Essas pessoas estão e são à margem da sociedade e na maioria dos casos elas não serão “incluídas” na sociedade novamente (ou pela primeira vez), e continuarão sofrendo preconceito, discriminação e a desvalorização como seres humanos. Na declaração universal dos direitos humanos “todos somos sujeitos de direitos”, mas nessa sociedade capitalista só é sujeito de direito quem tem como se prover e aqueles que não têm, ficam marginalizados socialmente, como seres invisíveis, visto que cada vez mais a sua pobreza é naturalizada e aumenta a criminalização deste sujeito que não vive conforme as regras do capitalismo. Ditamo-nos neoliberais, e democráticos, no entanto vivemos em uma “democracia, mas não somos democráticos”, somos neoliberais e a prática puramente liberal ainda se faz presente.
A situação em que se encontram os atores do documentário é a situação proposta pelo texto da Behring e Boschetti (2008), onde elas retratam o surgimento do liberalismo, as legislações semanais (leis inglesas) que se desenvolveram no período que antecedeu a Revolução Industrial. Essas legislações estabeleciam distinção entre pobres “merecedores” e os “não merecedores”, sendo os personagens do documentário, pessoas não merecedoras de benefícios do Estado, aquele que deve garantir direito a todos e igualdade perante a lei, mas os marginalizados não são iguais a todos, pois eles possuem capacidade de trabalhar, e não estão inseridos no mercado de trabalho, nem ao menos são contabilizados como taxa de afluência, e isso por diversos fatores econômicos e sociais, essas pessoas não se enquadraram no perfil desejado pelo sistema e por isso mesmo, são julgadas, excluídas e seus direitos negligenciados.
A respeito dos direitos que o trabalhador vinha construindo ao longo das lutas de classe, Malthus diz: “Há um direito que geralmente se pensa que o homem possui e que eu estou convicto de que ele não possui nem pode possuir: o direito de subsistência, quando seu trabalho não a provê devidamente” (Lux,1993: 44 apud Behring; Boschetti, 2008, p. 61). Mas os que estão à margem da sociedade não pagam impostos e não são contribuintes da previdência, além de não serem consumidores, isso é o bastante para que o Estado tenha razão em não beneficiá-los com políticas sociais. É uma realidade nossa, que passa despercebida nas esferas sociais, pois com o aumento do individualismo a naturalização da pobreza, eles (os não merecedores) que procurem uma forma de sobreviver e garantir sua existência.
No vídeo, os entrevistados são moradores de ruas, e eles alegaram que sempre tem alguém tirando foto deles, filmando-os, sem nem sequer perguntar se eles autorizam essa invasão de privacidade. Através das falas deles, percebemos a angústia que sentem ao serem invadidos constantemente, como se eles não fossem ninguém. O documentário, A margem da imagem, tem a proposta de mostrar a realidade em que os mendigos e moradores de rua vivem. O resultado do curta é incrível, eles opinam a respeito do que deve ser melhorado e criticam que o diretor deveria ter mostrado a realidade nua e crua, porque as pessoas (diz um entrevistado) não sabem o que eles passam e simplesmente os ignoram, a começar da própria equipe do documentário que estão conversando com eles porque naquele momento, deles precisam, mas depois não mais o reconheceram e os ignoraram da mesma forma que qualquer outra pessoa.
Os elementos essenciais do liberalismo, mostrados anteriormente, retratam a posição da maior parte da sociedade diante das pessoas que não tem uma vida nos padrões societais capitalista e esse pensamento é imposto implicitamente e explicitamente todos os dias pela mídia, que frisa bem a valorização do individualismo,  “que você tem alternativa basta você querer”. Só que elas não sabem em que realidade os mendigos e moradores de rua estão. Mas a mídia tem mesmo que favorecer ao Estado e conseqüentemente à burguesia, reafirmando a capacidade inata ao ser humano: a de vencer e ser rico, como por ex.: Silvio Santos fez.
Esse processo histórico de exclusão social que advêm da exploração e dominação capitalista, é a expressão da questão social. Em que uma minoria esta em vantagem e uma grande maioria em desvantagem, reflete em impactos de desigualdade, inferiorizarão perda de laços sociais, políticos e familiares, com desqualificação, sofrimento, inacessibilidade a serviços, insustentabilidade e insegurança, quanto configurando um distanciamento da vida digna, da identidade desejada e da justiça. O documentário “África” traz a tona a agudizante contradição do sistema capitalista, contradição esta que consiste na produção de riqueza paralelamente a produção de pobreza e miserabilidade. Sabemos que o continente africano é o lugar mais “precioso” para as mineradoras do mundo, e é um país rico em recursos naturais, no entanto sabemos também que para todo o resto do mundo, ainda há o pensamento interligado entre escravidão e africanos. O vídeo que assistimos é curto, porém de uma dimensão profunda, descreve numa pequena comunidade africana pessoas correndo para se esconderem de um ancião, a grande crítica está no fato de que a média de vida dos africanos é de 47 anos, e no futuro não se reconhecerá mais uma pessoa idosa.
Este pequeno e impactante vídeo nos mostra a intensa situação vivida por esses homens e mulheres do continente ao lado, pessoas estas, que sobrevivem da caridade e da filantropia e que ironicamente são motivos de “salvação de almas”, cada vez que a ONU e seus militantes levam consigo doações de pessoas boas que possuem uma grande concentração de renda e auxiliam aos mais necessitados. Os beneficiados das doações são pessoas que morrem de fome todos os dias enquanto em outros lugares do mesmo continente há um grande enriquecimento de pequenas partes da sociedade. O cenário aparentemente é distinto, mas pouco se difere da pobreza e exclusão do Brasil. Sabemos que a África ainda é bastante atrasada em relação ao nosso País, no entanto da mesma forma que há brasileiros na pobreza absoluta, também há africanos, mesmo que a pobreza do Brasil possa ser diferente da pobreza da África, pessoas morrem de fome do mesmo jeito. O que estamos abordando aqui é que estas pessoas, não apenas brasileiras ou africanas, mas em nível mundial, estão todos os dias sendo negligenciadas, estão esquecidas e são invisíveis aos olhos da sociedade, o que estamos querendo alertar aqui é que no mesmo momento em que a sociedade do consumo se satisfaz e se beneficia de bens produzidos coletivamente, os produtores não tem sequer condições de se apropriar do bem que produziu, e que da mesma forma que este último tem sua força de trabalho explorada, há os marginalizados que são desassistidos de toda e qualquer conquista da classe trabalhadora, pois são os desnecessários economicamente, portanto não lhes resta nem o direito de querer ter direitos.



À GUISA DA CONCLUSÃO
Podemos chegar á conclusão que os vídeos e o texto de Behring e Boschetti mostram a contradição do modo de produção capitalista. No vídeo A vida não Vive, mostra a usurpação que o sistema capitalista faz da natureza, fauna e flora como um todo. Ao ponto de termos fetiche em usar a pele de um animal, de comermos tal animal exótico, de um produto com extratos da Amazônia, criando-se uma necessidade irreal, e chega-se hoje em um ponto que a própria natureza não suporta mais os padrões do capitalismo, e uma das respostas é o aquecimento global. E qual a reação do Capitalismo? Desenvolvimento Sustentável! Partindo disso, temos o vídeo a Alma do Negócio, que mostra o consumismo desenfreado, onde consumir é tudo, ser é ter. E como nossas relações sociais são permeadas de relações consumistas, ao ponto de interferir na nossa subjetividade, é o status que se tem de poder de consumir e a cada dia se tem mais a necessidade do supérfluo. E o que seria do Consumo sem a mídia? O sistema também precisa dos Aparelhos Ideológicos do Estado, na qual imprime fortemente a necessidade de consumir, é o que podemos chamar de mais-valia no ato do consumo, pois se usurpa do consumidor, “embreagado” pelo fetichismo, de pagar, por exemplo, 70 mil reais em um vestido que pode ser comprado por 100 reais. No vídeo A margem da Imagem mostra a naturalização e banalização da miséria e pobreza, onde os marginalizados são invisíveis. E é o que Behring e Boschetti colocam em seu texto com uma frase “servidão da liberdade sem proteção”. E por mais que tentemos “ver os invisíveis” ocorre ainda o esteriótipo e o preconceito introjetado, fomos socializados para colocar a margem e criminalizar estes indivíduos. A sociedade não os vê, eles não se vêem, e por mais que na Constituição esteja previsto que todos somos sujeitos de direitos, eles nem direito de imagem tem, a sociedade tem um espírito de higienização e disciplinamento destes. No vídeo África mostra o processo de alta barbárie que vem sofrendo essa população, um país tão rico, mas ao mesmo tempo tão desigual, e o que o Estado faz? O estado delega ao Terceiro Setor seu dever, pois as ONG’s. a filantropia e a caridade possuem um papel fortíssimo hoje na África, principalmente por atores “Hollywoodianos”. Leandro Konder escreveu em Marxismo e Alienação um parágrafo muito interessante, que podemos fazer uma “ponte”, embora seja um texto dos anos 60 do século XX:
“Uma das evidências mais chocantes do nosso tempo, por exemplo, é a disparidade em que encontram o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, de um lado, e as condições materiais de vida da generalidade dos povos, de outro. Como foi possível a humanidade partir para o desbravamento do espaço cósmico, como foi possível a humanidade ter chegado a dominar as energias e as leis da natureza a ponto de lançar satélites artificiais e mandar naves à Lua, sem ter chegado a suprimir a fome n face da Terra?(Konder, 1965)

REFERÊNCIAS

BEHRING, E. R. e BOSCHETTI, I. Política social. Fundamentos e história. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2008.

KONDER, L. Marxismo e Alienação: contribuição para um estudo do conceito marxista de alienação. 2. Ed. São Paulo: Expressão Popular, 2009.

LESSA, S. Para compreender a Ontologia de Lukács. Ijuí: Ed. Unijuí, 2006.

NETTO, J.P. Economia Política: uma introdução crítica. 5. ed.  São Paulo: Cortez, 2009.

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Análise crítica de quatro documentários juntamente com o contexto do texto: Capitalismo, liberalismo e origens da política social.



UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Curso: Serviço Social
Disciplina: Questão Social
Professora: Luziana Ramalho
Período: 2010.2
Alunos:
Aline Cristina Lucena dos Santos
Avany Galdino da Silva  
Marcus Vinicius Leite do Vale
Nadja Rayssa Soares de Almeida      
Shellen Batista Galdino     






2ª Avaliação - Questão Social.
Análise crítica de quatro documentários juntamente com o contexto do texto: Capitalismo, liberalismo e origens da política social.











João Pessoa
OUTUBRO/2010

Vídeos anAlisados: 


e África.
APRESENTAÇÃO
O presente trabalho é uma proposta da disciplina intitulada Questão Social, ministrada pela Professora Luziana Ramalho. A atividade consiste na elaboração de um texto dissertativo no qual o grupo deve abordar a problemática assistida nos documentários com base no texto: “Capitalismo, liberalismo e origens da política social”, de Behring e Boschetti (2008). Para que a realização desta atividade assistimos quatro documentários em sala de aula (o que consiste na primeira fase desta avaliação) e também em aulas anteriores a professora proporcionou a discussão do principal texto que complementará esta abordagem crítica.

ANÁLISE

Numa primeira impressão, os vídeos assistidos, aparentemente têm uma temática distinta, cada um abordando algo de sua especificidade, o que na realidade não passa de um equívoco, pois ao analisarmos minuciosamente, descobrimos que os quatro vídeos norteiam questões idênticas, como por exemplo, o que denominamos de: sociedade do consumo. Este tema aparece em todos os documentários, uns de forma explícita e outros de forma implícita. E é a respeito desta temática, e fazendo ponte com o texto base, que trabalharemos a análise dos documentários na seguinte ordem estrutural: abordaremos primeiramente o vídeo nº 3, A vida não Vive, pois pudemos perceber que a abordagem central deste, é o trabalho, e como queremos abordar a sociedade do consumo, não podemos negligenciar que enquanto uns usufruem dos bens produzidos, há outro contingente que nem sempre pode consumir o que produz. Nesta seqüência trabalharemos o vídeo nº 1, A alma do negócio, pois aqui poderemos abordar o consumo deliberado e a forma como somos levados a exacerbar a função de um dado produto. Seguindo o raciocínio conjuntural, percebemos que na medida em que existem os consumidores e os produtores, há uma quantidade de pessoas que não compõem nenhum nem outro grupo, são os marginalizados, por isso em seguida abordaremos o vídeo nº 2, A margem da imagem, e finalizaremos com a grande contradição do capitalismo, no vídeo nº 4 (África), que na medida em que produz riqueza, produz pobreza.
De acordo com Lessa (2006), o trabalho consiste na ação do homem em transformar a natureza com o intuito de atender a uma dada necessidade imediata, para tanto esta ação parte de uma idéia (prévia ideação), e após ser executada, (com o objeto pronto) o homem ao ter feito esta atividade adquiriu conhecimento, que o influenciará na próxima idéia e conseqüentemente no próximo trabalho a ser realizado. Isto é um ciclo, e estamos abordando esta idéia de Sergio Lessa, porque de acordo com o vídeo, A vida na vive, percebemos que este ciclo acontece em inúmeras rotações, pois o homem está sempre transformando a natureza e transformando a si próprio. No entanto não é apenas isso que acontece, o homem não transforma a natureza no intuito de satisfazer uma necessidade imediata, não se trata aqui de uma comuna primitiva como já vimos com Netto (2009), estamos falando sobre o consumo exagerado que o homem faz com os recursos naturais e com o próprio ser humano, explorando cada vez mais a força de trabalho, visto que as relações sociais passam a ser relações entre mercadorias, em uma sociedade onde o individualismo só tende a crescer.
Historicamente, não queremos aqui concordar que a essência do homem é má, desde que a produção de bens, passou de valor de uso para valor de troca e com isso houve a possibilidade de acumulação, a sociedade divide-se entre: os que produzem e os que consomem, e ainda há aqueles que não podem consumir por não possuirem meios para se enquadrar na lógica do consumismo. A desmedida exploração da força de trabalho já passou por vários modos de produção, desde o que defendia a escravidão ao que preferisse a “servidão da liberdade sem proteção” (Behring; Boschetti, 2008, p.51)
 Trazendo para o nosso momento conjuntural, o modo de produção capitalista, vimos através do vídeo, que a produção de bens de consumo é o eixo central da vida humana, “não trabalhamos para viver, mas vivemos para trabalhar”, o homem está preso a esta lógica. Tudo trabalha para a manutenção desta idéia, até a natureza que sem a interferência do homem, já produzia os frutos, o mel, a seda, os ovos e outros derivados animais, hoje, há a manipulação desta produção a serviço da humanidade. A exploração do homem vem se acentuando cada vez mais, e as conquistas que os trabalhadores obtiveram através das lutas de classe, em pouco mudam esta realidade de exploração, por exemplo: a diminuição da jornada de trabalho para 8 horas, fez com que surgissem paralelamente a isso, formas de produzir mais em menos tempo, e com a tecnologia, é perfeitamente possível até a inversão de valores, visto que antes a máquina trabalhava para o homem e hoje é o homem quem trabalha para a máquina.
A inversão de valores não está somente na lógica da produção, mas também na do consumo. Karl Marx, em sua análise do capitalismo, descreve o fetichismo das mercadorias como a tendência de tratá-las como fetiches, ou seja, objetos dotados de propriedades mágicas que lhes conferem uma vida própria. Agimos, por exemplo, como se bens e serviços tivessem um valor natural em comparação com outros no mercado; como se dinheiro, ouro e outros bens fossem “preciosos” por sua própria natureza; como se as mercadorias pudessem se atrair entre si. O problema com esse tipo de pensamento, é que ele tende a obscurecer os relacionamentos sociais entre as pessoas, que constituem a origem real daquilo que atribuímos às mercadorias. As pessoas não sabem mais distinguir se compram uma calça do número que precisam ou se emagrecem para que possam caber na calça que desejam, “por via de conseqüência, os homens não são valorizados (e nem se valoram a si mesmos) pelo que são, mas sim pelo que têm – nessas sociedades, o ter subordina o ser.” (Netto, 2009, p. 93)
A supervalorização da mercadoria é algo fortemente presente no vídeo “A alma do negócio”, visto que o ato de consumir está acima de tudo e de todos. Este poder de possuir um determinado produto e uma dada marca (que muitas vezes se sobressai à própria utilidade do produto) é algo que garante sucesso nas relações sociais (defende o vídeo). O vídeo fala de um perfeito casal-propaganda que leva uma vida feliz e tranqüila até descobrir o que seus maravilhosos produtos podem fazer muito mais do que prometem. A família é alvo deste vídeo, trata-se da plena felicidade que apenas existe devido o “marido e a mulher” utilizarem os melhores produtos para determinadas funções e terem o prazer de poder ter escolhido dentre as mais variadas cores ofertadas. Conhecemos uma frase que diz que a arte imita a vida. A alma do negócio nos revela que a relação entre o casal, aparece como relações entre coisas, mostrando que o consumo encerra muitas vezes conseqüências que nada têm a ver com os usos para o qual um determinado artigo foi produzido. Logo, as qualidades que eram das relações sociais são passadas às mercadorias, e é no capitalismo que o fetichismo alcança o seu maior poder.
Destarte, da mesma forma que existem os consumidores, existem também aqueles que não têm favorecido ao sistema capitalista, os que não possuem renda para consumir e por isso mesmo ficam a margem da sociedade, sociedade esta que está fundada na idéia do individualismo, do neoliberalismo. É importante salientar que a ideologia liberal prega que cada indivíduo agindo em seu próprio interesse econômico, quando atuando junto à coletividade, maximizaria o bem estar coletivo. Suas características são o princípio do trabalho como mercadoria e sua regulação pelo livre mercado. O predomínio do individualismo, o bem estar individual, a maximização do bem estar coletivo, o predomínio da liberdade e competitividade, a naturalização da miséria, o predomínio da lei da necessidade, a manutenção de Estado mínimo, as políticas sociais estimulando o ócio e desperdício e a política social como um paliativo, são os pontos fundamentais para o liberalismo.
 O curta metragem, A margem da imagem, é o perfeito resultado do que acontece com as pessoas que não embarcam na lógica do modo de produção capitalista no mercado neoliberal, o curta mostra as expressões da questão social, na qual as pessoas que não se enquadram na sociedade de consumo, ou não tem como se prover por várias questões, são excluídas socialmente. Essas pessoas estão e são à margem da sociedade e na maioria dos casos elas não serão “incluídas” na sociedade novamente (ou pela primeira vez), e continuarão sofrendo preconceito, discriminação e a desvalorização como seres humanos. Na declaração universal dos direitos humanos “todos somos sujeitos de direitos”, mas nessa sociedade capitalista só é sujeito de direito quem tem como se prover e aqueles que não têm, ficam marginalizados socialmente, como seres invisíveis, visto que cada vez mais a sua pobreza é naturalizada e aumenta a criminalização deste sujeito que não vive conforme as regras do capitalismo. Ditamo-nos neoliberais, e democráticos, no entanto vivemos em uma “democracia, mas não somos democráticos”, somos neoliberais e a prática puramente liberal ainda se faz presente.
A situação em que se encontram os atores do documentário é a situação proposta pelo texto da Behring e Boschetti (2008), onde elas retratam o surgimento do liberalismo, as legislações semanais (leis inglesas) que se desenvolveram no período que antecedeu a Revolução Industrial. Essas legislações estabeleciam distinção entre pobres “merecedores” e os “não merecedores”, sendo os personagens do documentário, pessoas não merecedoras de benefícios do Estado, aquele que deve garantir direito a todos e igualdade perante a lei, mas os marginalizados não são iguais a todos, pois eles possuem capacidade de trabalhar, e não estão inseridos no mercado de trabalho, nem ao menos são contabilizados como taxa de afluência, e isso por diversos fatores econômicos e sociais, essas pessoas não se enquadraram no perfil desejado pelo sistema e por isso mesmo, são julgadas, excluídas e seus direitos negligenciados.
A respeito dos direitos que o trabalhador vinha construindo ao longo das lutas de classe, Malthus diz: “Há um direito que geralmente se pensa que o homem possui e que eu estou convicto de que ele não possui nem pode possuir: o direito de subsistência, quando seu trabalho não a provê devidamente” (Lux,1993: 44 apud Behring; Boschetti, 2008, p. 61). Mas os que estão à margem da sociedade não pagam impostos e não são contribuintes da previdência, além de não serem consumidores, isso é o bastante para que o Estado tenha razão em não beneficiá-los com políticas sociais. É uma realidade nossa, que passa despercebida nas esferas sociais, pois com o aumento do individualismo a naturalização da pobreza, eles (os não merecedores) que procurem uma forma de sobreviver e garantir sua existência.
No vídeo, os entrevistados são moradores de ruas, e eles alegaram que sempre tem alguém tirando foto deles, filmando-os, sem nem sequer perguntar se eles autorizam essa invasão de privacidade. Através das falas deles, percebemos a angústia que sentem ao serem invadidos constantemente, como se eles não fossem ninguém. O documentário, A margem da imagem, tem a proposta de mostrar a realidade em que os mendigos e moradores de rua vivem. O resultado do curta é incrível, eles opinam a respeito do que deve ser melhorado e criticam que o diretor deveria ter mostrado a realidade nua e crua, porque as pessoas (diz um entrevistado) não sabem o que eles passam e simplesmente os ignoram, a começar da própria equipe do documentário que estão conversando com eles porque naquele momento, deles precisam, mas depois não mais o reconheceram e os ignoraram da mesma forma que qualquer outra pessoa.
Os elementos essenciais do liberalismo, mostrados anteriormente, retratam a posição da maior parte da sociedade diante das pessoas que não tem uma vida nos padrões societais capitalista e esse pensamento é imposto implicitamente e explicitamente todos os dias pela mídia, que frisa bem a valorização do individualismo,  “que você tem alternativa basta você querer”. Só que elas não sabem em que realidade os mendigos e moradores de rua estão. Mas a mídia tem mesmo que favorecer ao Estado e conseqüentemente à burguesia, reafirmando a capacidade inata ao ser humano: a de vencer e ser rico, como por ex.: Silvio Santos fez.
Esse processo histórico de exclusão social que advêm da exploração e dominação capitalista, é a expressão da questão social. Em que uma minoria esta em vantagem e uma grande maioria em desvantagem, reflete em impactos de desigualdade, inferiorizarão perda de laços sociais, políticos e familiares, com desqualificação, sofrimento, inacessibilidade a serviços, insustentabilidade e insegurança, quanto configurando um distanciamento da vida digna, da identidade desejada e da justiça. O documentário “África” traz a tona a agudizante contradição do sistema capitalista, contradição esta que consiste na produção de riqueza paralelamente a produção de pobreza e miserabilidade. Sabemos que o continente africano é o lugar mais “precioso” para as mineradoras do mundo, e é um país rico em recursos naturais, no entanto sabemos também que para todo o resto do mundo, ainda há o pensamento interligado entre escravidão e africanos. O vídeo que assistimos é curto, porém de uma dimensão profunda, descreve numa pequena comunidade africana pessoas correndo para se esconderem de um ancião, a grande crítica está no fato de que a média de vida dos africanos é de 47 anos, e no futuro não se reconhecerá mais uma pessoa idosa.
Este pequeno e impactante vídeo nos mostra a intensa situação vivida por esses homens e mulheres do continente ao lado, pessoas estas, que sobrevivem da caridade e da filantropia e que ironicamente são motivos de “salvação de almas”, cada vez que a ONU e seus militantes levam consigo doações de pessoas boas que possuem uma grande concentração de renda e auxiliam aos mais necessitados. Os beneficiados das doações são pessoas que morrem de fome todos os dias enquanto em outros lugares do mesmo continente há um grande enriquecimento de pequenas partes da sociedade. O cenário aparentemente é distinto, mas pouco se difere da pobreza e exclusão do Brasil. Sabemos que a África ainda é bastante atrasada em relação ao nosso País, no entanto da mesma forma que há brasileiros na pobreza absoluta, também há africanos, mesmo que a pobreza do Brasil possa ser diferente da pobreza da África, pessoas morrem de fome do mesmo jeito. O que estamos abordando aqui é que estas pessoas, não apenas brasileiras ou africanas, mas em nível mundial, estão todos os dias sendo negligenciadas, estão esquecidas e são invisíveis aos olhos da sociedade, o que estamos querendo alertar aqui é que no mesmo momento em que a sociedade do consumo se satisfaz e se beneficia de bens produzidos coletivamente, os produtores não tem sequer condições de se apropriar do bem que produziu, e que da mesma forma que este último tem sua força de trabalho explorada, há os marginalizados que são desassistidos de toda e qualquer conquista da classe trabalhadora, pois são os desnecessários economicamente, portanto não lhes resta nem o direito de querer ter direitos.



À GUISA DA CONCLUSÃO
Podemos chegar á conclusão que os vídeos e o texto de Behring e Boschetti mostram a contradição do modo de produção capitalista. No vídeo A vida não Vive, mostra a usurpação que o sistema capitalista faz da natureza, fauna e flora como um todo. Ao ponto de termos fetiche em usar a pele de um animal, de comermos tal animal exótico, de um produto com extratos da Amazônia, criando-se uma necessidade irreal, e chega-se hoje em um ponto que a própria natureza não suporta mais os padrões do capitalismo, e uma das respostas é o aquecimento global. E qual a reação do Capitalismo? Desenvolvimento Sustentável! Partindo disso, temos o vídeo a Alma do Negócio, que mostra o consumismo desenfreado, onde consumir é tudo, ser é ter. E como nossas relações sociais são permeadas de relações consumistas, ao ponto de interferir na nossa subjetividade, é o status que se tem de poder de consumir e a cada dia se tem mais a necessidade do supérfluo. E o que seria do Consumo sem a mídia? O sistema também precisa dos Aparelhos Ideológicos do Estado, na qual imprime fortemente a necessidade de consumir, é o que podemos chamar de mais-valia no ato do consumo, pois se usurpa do consumidor, “embreagado” pelo fetichismo, de pagar, por exemplo, 70 mil reais em um vestido que pode ser comprado por 100 reais. No vídeo A margem da Imagem mostra a naturalização e banalização da miséria e pobreza, onde os marginalizados são invisíveis. E é o que Behring e Boschetti colocam em seu texto com uma frase “servidão da liberdade sem proteção”. E por mais que tentemos “ver os invisíveis” ocorre ainda o esteriótipo e o preconceito introjetado, fomos socializados para colocar a margem e criminalizar estes indivíduos. A sociedade não os vê, eles não se vêem, e por mais que na Constituição esteja previsto que todos somos sujeitos de direitos, eles nem direito de imagem tem, a sociedade tem um espírito de higienização e disciplinamento destes. No vídeo África mostra o processo de alta barbárie que vem sofrendo essa população, um país tão rico, mas ao mesmo tempo tão desigual, e o que o Estado faz? O estado delega ao Terceiro Setor seu dever, pois as ONG’s. a filantropia e a caridade possuem um papel fortíssimo hoje na África, principalmente por atores “Hollywoodianos”. Leandro Konder escreveu em Marxismo e Alienação um parágrafo muito interessante, que podemos fazer uma “ponte”, embora seja um texto dos anos 60 do século XX:
“Uma das evidências mais chocantes do nosso tempo, por exemplo, é a disparidade em que encontram o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, de um lado, e as condições materiais de vida da generalidade dos povos, de outro. Como foi possível a humanidade partir para o desbravamento do espaço cósmico, como foi possível a humanidade ter chegado a dominar as energias e as leis da natureza a ponto de lançar satélites artificiais e mandar naves à Lua, sem ter chegado a suprimir a fome n face da Terra?(Konder, 1965)

REFERÊNCIAS

BEHRING, E. R. e BOSCHETTI, I. Política social. Fundamentos e história. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2008.

KONDER, L. Marxismo e Alienação: contribuição para um estudo do conceito marxista de alienação. 2. Ed. São Paulo: Expressão Popular, 2009.

LESSA, S. Para compreender a Ontologia de Lukács. Ijuí: Ed. Unijuí, 2006.

NETTO, J.P. Economia Política: uma introdução crítica. 5. ed.  São Paulo: Cortez, 2009.

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