quarta-feira, junho 02, 2010

Prostituição: opção ou necessidade?


                                                                           Luciano Freitas Filho[1]

O que é próprio das sociedades modernas não é o terem condenado o sexo a permanecer na obscuridade, mas sim o terem-se devotado a falar dele sempre, valorizando-o como o segredo”

                                                                                                                                            Michel Foucault

Em verdade vos digo, caros amigos, impérios ascendem, declinam e passam. Mitos e Ritos passam. “Um rio não passa duas vezes no mesmo lugar”. Aquela nuvem que passa, lá em cima não sou eu, eu passarei. Mas as Damas da noite, embora elas passem, elas perpassam o tempo, renascem de suas cinzas e permanecem desde que o mundo se entendeu por Mundo. 

Entretanto, hoje, no dia 02 de junho, Dia Internacional das Prostitutas, não venho debater a idade da Prostituição, mas sim falar da força que lhe leva a permanecer de pé, estimular a reflexão de um debate real e necessário , que é o de encará-la na perspectiva de profissão.

Atire a primeira pedra aquele que nunca desejou, seduziu ou amou. Sim! não venho falar em pecados, pois o que denominamos pecados, apresento-lhes como desejos, amores e delícias da carne, que embora com dores, não vai à pista , ao posto de trabalho, para apontar o dedo, impor verdades, condenar outrem. Muito pelo contrário, ali é dado uma face à tapa e oferecida também a outra.

            Uma moeda é cara e é coroa, o bem tem triunfado em função do declínio do mal. Uma alma busca incessantemente a uma outra gêmea. Se as meninas estão na pista, elas não são singular, na verdade elas são par. Quando a Dama da noite está na pista, entenda que nossos amigos, homens e mulheres, vestidos de “moral e bons costumes”, também estão na pista, em busca do desejo, dos prazeres e delícias. Eles também vão se despir. O Produto não é oferecido de porta em porta, não destrói lares, como dizem por aí. Ele vai aonde ele é chamado, ou melhor, convidado.

            Prostituir-se pode ser falta de opção, de oportunidade, pode ser uma tese. Afinal, a luta de classes ainda continua, companheiros e companheiras. Por outro lado, essa não é uma nuvem escura que paira apenas sobre as cabeças da Meretriz. Conheço médico que é médico por falta de opção, professor que opta por educar e deseduca . Todavia, eles são legalizados, apresentam uma carteira profissional , não estão clandestinos e vulneráveis à exploração .

Por outro lado, Senhoras e Senhoras, eis uma verdade que incomoda e é difícil de ouvir. Prostituir-se, igualmente, é a antítese, é uma opção.  Ela não é o pedido de esmola do faminto, ela é a consciência e a lucidez de uma escolha entre várias deleites de um banquete. Na busca de evitar contratempos com a moral e os bons costumes, do recato das pernas fechadas e do casamento imaculado de véu e grinalda, é preferível pensar mocinhas universitárias enquanto “acompanhantes”. Engenheiras em formação Superior, Arquitetas e Enfermeiras, Damas de Classe, Classe Média, entretanto Garotas de Programa, Acompanhantes , ou melhor, Prostitutas. As pesquisas comprovam. As de classe mais baixa também afirmam a escolha de uma profissão.

Essas meninas são a síntese do talento, vocação e da necessidade de sobreviver, são Profissionais do Sexo, similar a toda e qualquer trabalhador em seu ofício, diga-se de passagem. Na condição de trabalho, a prostituição também tem ossos, derrama suor por cada centavo, paga seus impostos, mas não é reconhecida como cidadania na Carteira de Identidade.  Enquanto a profissão não é regularizada, cafetões existirão, donos de bordeis e zonas não pagarão os benefícios do INSS. Aí sim, a miséria e exploração é uma vergonha num processo democrático.

Na verdade, as “putas”, “rameiras”, “quengas” e “vagabas”, ameaçam o falso marketing da monogamia como único produto disponível no mercado. Elas revelam o cultural e histórico assujeitamento do corpo da Dona de Casa, da “mulher de Sociedade”, o seu falso desnudamento da eroticidade, do desejo e libido, em função do machismo. Assim, escondemos as reais razões para que os homens se dirijam às pistas, e consequentemente, de fato, mas não de direito, destruímos lares.

Essas meninas não são disseminadoras de doenças, pois quando pagamos por um serviço, queremos o serviço completo e que melhor nos atenda. Logo, quem opta pelo sexo descamisado? o ovo ou a galinha?

Hoje, elas estão prevenidas e organizadas, em busca de seus direitos. Nesse dia Internacional de luta , superando o debate do que é certo e errado, se é opção ou necessidade, gostaria de contar um segredo: as damas da noite estão atuando de dia. Para além da profissão, existem mães, irmãs, avós e vizinhas. Elas são Marias, Marias de verdade. Marias que amam e, portanto, são dignas de serem amadas.

* Às meninas super- poderosas da vida ,Vânia Rezende, Nanci Feijó e Maria das Graças, com todo amor e carinho do seu amigo .


[1] Vice-presidente da ONG Movimento Gay Leões do Norte. Membro da Gerência de Direitos Humanos da Secretaria de Educação de Pernambuco . Filiado ao PSB- Pernambuco

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Prostituição: opção ou necessidade?


                                                                           Luciano Freitas Filho[1]

O que é próprio das sociedades modernas não é o terem condenado o sexo a permanecer na obscuridade, mas sim o terem-se devotado a falar dele sempre, valorizando-o como o segredo”

                                                                                                                                            Michel Foucault

Em verdade vos digo, caros amigos, impérios ascendem, declinam e passam. Mitos e Ritos passam. “Um rio não passa duas vezes no mesmo lugar”. Aquela nuvem que passa, lá em cima não sou eu, eu passarei. Mas as Damas da noite, embora elas passem, elas perpassam o tempo, renascem de suas cinzas e permanecem desde que o mundo se entendeu por Mundo. 

Entretanto, hoje, no dia 02 de junho, Dia Internacional das Prostitutas, não venho debater a idade da Prostituição, mas sim falar da força que lhe leva a permanecer de pé, estimular a reflexão de um debate real e necessário , que é o de encará-la na perspectiva de profissão.

Atire a primeira pedra aquele que nunca desejou, seduziu ou amou. Sim! não venho falar em pecados, pois o que denominamos pecados, apresento-lhes como desejos, amores e delícias da carne, que embora com dores, não vai à pista , ao posto de trabalho, para apontar o dedo, impor verdades, condenar outrem. Muito pelo contrário, ali é dado uma face à tapa e oferecida também a outra.

            Uma moeda é cara e é coroa, o bem tem triunfado em função do declínio do mal. Uma alma busca incessantemente a uma outra gêmea. Se as meninas estão na pista, elas não são singular, na verdade elas são par. Quando a Dama da noite está na pista, entenda que nossos amigos, homens e mulheres, vestidos de “moral e bons costumes”, também estão na pista, em busca do desejo, dos prazeres e delícias. Eles também vão se despir. O Produto não é oferecido de porta em porta, não destrói lares, como dizem por aí. Ele vai aonde ele é chamado, ou melhor, convidado.

            Prostituir-se pode ser falta de opção, de oportunidade, pode ser uma tese. Afinal, a luta de classes ainda continua, companheiros e companheiras. Por outro lado, essa não é uma nuvem escura que paira apenas sobre as cabeças da Meretriz. Conheço médico que é médico por falta de opção, professor que opta por educar e deseduca . Todavia, eles são legalizados, apresentam uma carteira profissional , não estão clandestinos e vulneráveis à exploração .

Por outro lado, Senhoras e Senhoras, eis uma verdade que incomoda e é difícil de ouvir. Prostituir-se, igualmente, é a antítese, é uma opção.  Ela não é o pedido de esmola do faminto, ela é a consciência e a lucidez de uma escolha entre várias deleites de um banquete. Na busca de evitar contratempos com a moral e os bons costumes, do recato das pernas fechadas e do casamento imaculado de véu e grinalda, é preferível pensar mocinhas universitárias enquanto “acompanhantes”. Engenheiras em formação Superior, Arquitetas e Enfermeiras, Damas de Classe, Classe Média, entretanto Garotas de Programa, Acompanhantes , ou melhor, Prostitutas. As pesquisas comprovam. As de classe mais baixa também afirmam a escolha de uma profissão.

Essas meninas são a síntese do talento, vocação e da necessidade de sobreviver, são Profissionais do Sexo, similar a toda e qualquer trabalhador em seu ofício, diga-se de passagem. Na condição de trabalho, a prostituição também tem ossos, derrama suor por cada centavo, paga seus impostos, mas não é reconhecida como cidadania na Carteira de Identidade.  Enquanto a profissão não é regularizada, cafetões existirão, donos de bordeis e zonas não pagarão os benefícios do INSS. Aí sim, a miséria e exploração é uma vergonha num processo democrático.

Na verdade, as “putas”, “rameiras”, “quengas” e “vagabas”, ameaçam o falso marketing da monogamia como único produto disponível no mercado. Elas revelam o cultural e histórico assujeitamento do corpo da Dona de Casa, da “mulher de Sociedade”, o seu falso desnudamento da eroticidade, do desejo e libido, em função do machismo. Assim, escondemos as reais razões para que os homens se dirijam às pistas, e consequentemente, de fato, mas não de direito, destruímos lares.

Essas meninas não são disseminadoras de doenças, pois quando pagamos por um serviço, queremos o serviço completo e que melhor nos atenda. Logo, quem opta pelo sexo descamisado? o ovo ou a galinha?

Hoje, elas estão prevenidas e organizadas, em busca de seus direitos. Nesse dia Internacional de luta , superando o debate do que é certo e errado, se é opção ou necessidade, gostaria de contar um segredo: as damas da noite estão atuando de dia. Para além da profissão, existem mães, irmãs, avós e vizinhas. Elas são Marias, Marias de verdade. Marias que amam e, portanto, são dignas de serem amadas.

* Às meninas super- poderosas da vida ,Vânia Rezende, Nanci Feijó e Maria das Graças, com todo amor e carinho do seu amigo .


[1] Vice-presidente da ONG Movimento Gay Leões do Norte. Membro da Gerência de Direitos Humanos da Secretaria de Educação de Pernambuco . Filiado ao PSB- Pernambuco

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